O RÁDIO E A CHEGADA DA TELEVISÃO.
HAMILTON RAPOSO DE MIRANDA FILHO
A força do rádio AM é indiscutível e o Brasil é uma potência nesta
modalidade de comunicação de massa. São Luís, para não fugir ao figurino, é uma
cidade ligada, permanentemente, nas ondas sonoras, tanto como forma de
diversão, como, principalmente, como meio de informação social.
O rádio, como veículo de difusão coletiva, sempre serviu para
entretenimento, informação e cultura. Aqui tivemos as nossas cantoras de rádio,
não que levassem a vida a cantar, tinham outras profissões, mas fizeram as
nossas manhãs de domingos mais festivas. Entre elas destaco Orlandira Matos e
Lurdinha Sousa, fenômenos de sucesso e de audiência. Lurdinha se casou com o Jornalista
e Radialista Américo de Sousa, que foi Deputado Federal, Senador da República e
Ministro do Trabalho. São Luís simplesmente parava ao meio-dia para ouvir
Fernando Sousa. A população almoçava somente depois do comentário político do
“Difusora Opina”, que constituía uma espécie de termômetro político da cidade.
No período de carnaval as notícias eram passadas aos ouvintes pelos Vigilantes
RD.
As manhãs de domingo eram de Aldir Dudman e Lima Junior, e as
tardes esportivas, de Guioberto Alves. A força do rádio ficou evidenciada por
ocasião do programa a “Guerra dos Mundos”. A cidade parou, ficou anestesiada,
em pânico, crente de que o fim o mundo havia chegado. Uma realidade de Orson
Welles transportada para São Luís. A interpretação levada ao ar pela Rádio
Difusora foi tão real que a emissora enfrentou depois sérios problemas com a
Justiça. Acho que foi o melhor programa já produzido no Maranhão.
O Rádio Patrulha e o Futebol de Meia Tigela, produzido por
Rui Dourado na Rádio Timbira, costumava ter 100% de audiência. Os programas
tinham personagens que eram incorporados no cotidiano por todos os ouvintes. O
Domingo é Nosso, de Lima Junior, quando deixou de ser apresentado em auditório
e passou a ser produzido em estúdio, introduziu a participação dos ouvintes por
telefones, a cidade parava, para escutar o programa!
Alegria na Taba, Debaixo do Cajueiro, Galinho da Madrugada e Correio
do Interior foram programas de rádio épicos que deveriam ser objetos de teses
acadêmicas, do ponto de vista social e antropológico.
A história de São Luís pode ser contada pelos programas de
rádio. O rádio nunca perdeu a sua força e influência, nem mesmo com a chegada
da televisão, que trouxe novidades e pioneirismos. As telenovelas seguiam a
onda da antiga TV Tupi e tínhamos nossos artistas, como Reinaldo Faray, Aldo
Leite, Carlos Lima, Lurdes Tajra, Murilo Campelo (ator, apresentador, locutor,
humorista e repórter) e muitos outros.
O público infantil tinha o seu horário e seus palhaços,
Marreta e Pipiu faziam sucesso e zelavam pelo bom comportamento das crianças.
Existia um jargão no programa - “saiu do coração do Marreta” - para a criança
que cometesse alguma travessura ou desobediência. Eu tinha pavor de sair do
coração do Marreta!
A comercialização de aparelhos de televisão era tímida,
acessível a poucos. Assistir televisão era um luxo, e normalmente os moradores
de uma rua se reuniam na casa de algum vizinho com televisor, para assistir aos
programas, com especial destaque para as telenovelas. Os chamados “televizinhos”
aplaudiam até os chiados e chuviscos dos velhos receptores a válvula. Nessa
época, a Prefeitura de São Luís instalou em cada praça um aparelho de televisão,
acabando assim com os “televizinhos”. Conta-se que a maioria dos televisores
foram depredados por gente inconformada com o final de alguma novela,
especialmente Irmãos Coragem.
O início da televisão em São Luís permitiu que assistíssemos séries
hoje transformados em filmes cult, como o Zorro, Ritintim, Vigilante
Rodoviário, Guilherme Tell e Nacional Kid. A televisão se globalizou, entrou em
rede e perdeu o encanto tupiniquim.
São histórias da minha cidade!
Uma homenagem a todos os radialistas e jornalistas de São Luís.