sábado, 7 de dezembro de 2024

 CASA DOS AVÓS, SEGREDOS E JERONIMO, O HERÓI DO SERTÃO!

Merece um estudo, provavelmente uma tese de doutorado, o fascínio dos netos pela casa dos avós. Penso, que o assunto, e a casa dos avós, devam ser dissecados como um anatomista faz em um corpo sem vida, com certeza existem particularidades em cada corpo dissecado e em cada casa de avó, porém a semelhança entre as casas dos avós seja mais comuns.
O que então fascina o neto? Geralmente as casas dos avós não tem nenhum atrativo arquitetônico. São casas simples, com móveis antigos e o espaço vazio deixados pelos filhos e que geralmente são preenchidos por um gato ou um cão de estimação, mais nada disso fascina um neto, mas o acúmulo de história e de quinquilharia que faz da casa dos avós um parque de diversão o atrativo para os netos. Não existe nenhuma casa de avô ou de avó que não tenha um quarto empoeirado ou um armário a ser descoberto. São revistas e jornais amarelados pelo tempo, que guardam alguma lembrança da juventude, coleções de selos intermináveis, cartas de amor dos avós, bijuterias que sobrevivem ao tempo, livros, fitas cassetes, LPs e tudo que a história de vida representou ou que lembre a juventude que se foi.
A casa dos meus avós maternos, Flora Camões da Costa e Hegezzippo Franklin da Costa, a segunda casa em que moraram, ficava na Rua de Santana, em frente da Igreja de Santana. Era uma casa comum, tipo meia morada e sem nenhuma característica externa que chamasse a atenção. Na parte da frente da casa ficava o consultório odontológico do meu tio Franklin. O corredor alcançava todos os cômodos da casa, e o segundo cômodo, ficava o quarto da minha avó Flora e de sua irmã Maria Camões, a Cotinha ou Dindinha como eu a chamava. Neste quarto existia um grande guarda-roupa de madeira preta, com um espelho na porta e trancado com chave impossibilitando o acesso dos netos. Ali ficava guardado um precioso tesouro do meu tio Franklin: a coleção de Revistas dos Esportes, Tico-Tico, Cruzeiro com a escolha de todas as misses, Fatos e Fotos e jornais, tinha de tudo naquele guarda-roupa para um neto descobrir.
Na sala, bem ao lado da cadeira em que minha avó costumava sentar, existia um rádio, provavelmente um Transglobo de válvula, sintonizado pontualmente todos os dias, às 18 horas na Rádio Nacional, onde todos da casa e os que passavam pela casa, ouviam e viviam as emoções da radionovela “Jeronimo, o Herói do Sertão”. O silêncio era uma situação extremamente necessária para a perfeita audição das falas dos atores, que competiam com os chiados do Transglobo de válvulas.
No quintal havia um galinheiro com algumas galinhas e galos anciãos. Nenhuma galinha foi para a panela na casa da minha avó, todas foram criadas pelo meu tio como “filhas”, até o galo de Franklinho, ruidoso e valente sobreviveu ao apetite de Zé Carlos, Nereide e Regina.
Guardo cartas, selos, projetos, pequenas histórias, revistas, jornais, livros e sonhos dentro de um guarda-roupa, um dia as minhas netas vão descobrir, ou quem sabe, ache tudo desnecessário e joguem fora ou se perca em alguma mudança.
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