sábado, 15 de dezembro de 2018

CHAUFFEUR, CARRINHO DO ANJO DA GUARDA E  UBER MARANHENSE!
Coluna Imparcial 17 de dezembro de 2018
Hamilton Raposo é psiquiatra e professor universitário. hamiltonraposo@gmail.com

A vocação cosmopolita de São Luíé surpreendente. São Luíé ilha rebelde, Atenas Brasileira, Jamaica Brasileira ou simplesmente São Luís! 
São Luís nasceu com o charme francês, foi cortejada por holandeses e a musa inspiradora dos portugueses. A cidade é indiscutivelmente a mais europeia das cidades brasileiras, e se discute há algum tempo, muito antes que as outras cidades, a questão da mobilidade urbana, transporte público, tarifa única, bilhete eletrônico e concorrência pública. Até um VLT já tentaram implantar como solução de transporte público, ligando o nada a coisa alguma.
Houve um tempo, mais precisamente na década de 1960, que todas as categorias profissionais se manifestavam, se um entrava em greve, logo o outro também entrava. Eram bancários, marinheiros, comerciários, estudantes, funcionários públicos e camponeses, todos reclamavam de alguma coisa, geralmente questão de piso salarial ou liberdade democrática. 
Em São Luís havia uma categoria profissional, os choferes, que não se manifestavam e nem se deixavammanifestar. Automóveis e ônibus quase não existiam. O ônibus mais conhecido na cidade era o cara baixo” e disputava a preferência dos usuários com o bonde, principalmente para os que se dirigiam para o João Paulo, Cutim do Padre ou Anil. 
Chauffeur ou chofer em um afrancesado maranhense, era o profissional que dirigia um veiculo automotor, e como a nossa vocação sempre foi em virar Paris, assim tratávamos os nossos condutores de veículos, os motoristas atuais. 
O termo motorista, sem nenhum charme maranhense, se incorporou ao nosso palavreado através do contato com o proletariado paulista, e designa aquele que trabalha com motores. 
O chauffeur não fazia paralização e ninguém imaginava um Jacinto, Astrolábio, Vadeco, Alemãozinho, Sebastião, Paulo Veiga, Zé Espicha ou Jacu parando um Bel Air 56, Doge 51, Hudson, Studeback, Citroen ou Perfect em plena Praça João Lisboa e impedir a passagem do Bonde de São Pantaleão. Isto seria um absurdo! 
O charme francês dos nossos choferes não tinha as mesmas características dos motoristas, não eram operários e muito menos sindicalizados, eram chauffeur.  
A elegância de Jacinto, que além de chauffeur era um educador de trânsito, o fez decidir, que ao se aposentar, enveredar por aquilo que fazia de melhor: Ser Professor. O seu Jacinto, como era chamado, fazia ponto no Posto Hilmam, ao lado do Hotel Serra Negra.
Um chauffeur conduzia geralmente um carro de praça e aqui não se chamava de taxi, chamava-se carro de praça, na verdade um antecessor dos urbes ou dos carros lotação, que os paulistas adoram e imaginam que foram pioneiros neste meio de condução. 
carro de praça dos elegantes choferes virou carrinho, o conhecido meio de transporte que serve o bairro do Anjo da Guarda ao Centro da Cidade, o predecessor do uber. O carrinho do Anjo da Guarda, os motorneiros dos simpáticos e saudosos bondes e os nossos choferes, por questão de elegância, charme e independência, deveriam ser considerados patrimônio imaterial de São Luís.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Uma paciente, que atendo já há algum tempo, veio hoje ao meu consultório para me presentear com uma "lembrancinha" de Natal. Ela iniciou seu seguimento comigo após o falecimento inesperado do esposo. Um casamento de mais de 50 anos. Em meio a solidão e a depressão, iniciamos nossa história.

Assim, foi o nosso diálogo:

Paciente: "Oi doutor! Vim trazer esse presentinho para você".

Eu: "Nossa, quanta gentiliza! Não precisava. Fico muito feliz e agradecido".

Paciente: "Que nada. Para mim, é que é felicidade trazer para você".

Paciente: "Doutor, em relação aos nossos amados que partiram, as pessoas dizem que a 1o coisa que esquecemos deles é voz".

Eu: "Acho que não esquecemos dela. Acho que passamos ouvi-la pelo coração e não mais pelo ouvido".

Paciente: "Faz sentido".

Eu: "Você, portanto, ainda escuta a voz dele?"

Paciente: "Todos os dias doutor. Mas, confesso que sinto falta da voz dele ao meu ouvido. A voz dele me trazia segurança".

Eu: "Acredito nisso. Sem dúvidas, a voz dele, escutada ao ouvido, permitia uma maior tranquilidade. No entanto, falar dele, lembrar dele, sentir ele, perceber tudo vivido a dois com ele e continuar o legado dele poderiam representar uma forma de escutá-lo?"

Paciente: "Sim, doutor. Acredito que sim. Obrigado também pela sua "voz" sempre ativa desde a partida dele. Sua "voz" é muito importante para mim. Sua "voz" faz a diferença".

Eu: "Minha voz sempre estará contigo..."

Paciente: "Obrigada! Eu sei disso. Feliz Natal para você e sua família..."

Que nós, médicos, possamos entender a importância da nossa "voz"...

domingo, 9 de dezembro de 2018

Já perdoei erros quase imperdoáveis, tentei substituir pessoas insubstituíveis e esquecer pessoas inesquecíveis. Já fiz coisas por impulso, já me decepcionei com pessoas que eu nunca pensei que iriam me decepcionar, mas também decepcionei alguém. Já abracei para proteger, já dei risada quando não podia, fiz amigos eternos,e amigos que eu nunca mais vi. Amei e fui amado, mas também fui rejeitado, fui amado e não amei. Já gritei e pulei de tanta felicidade, já vivi de amor e fiz juras eternas, e quebrei a cara muitas vezes! Já chorei ouvindo música e vendo fotos, já liguei só para escutar uma voz, me apaixonei por um sorriso, já pensei que fosse morrer de tanta saudade, tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo)! Mas vivi! E ainda vivo. Não passo pela vida. E você também não deveria passar. Viva!Bom mesmo é ir à '''luta com determinação, abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, por que o mundo pertence a quem se atreve. E a vida é muito para ser insignificante.Já perdoei erros quase imperdoáveis, tentei substituir pessoas insubstituíveis e esquecer pessoas inesquecíveis. Já fiz coisas por impulso, já me decepcionei com pessoas que eu nunca pensei que iriam me decepcionar, mas também decepcionei alguém. Já abracei para proteger, já dei risada quando não podia, fiz amigos eternos,e amigos que eu nunca mais vi. Amei e fui amado, mas também fui rejeitado, fui amado e não amei. Já gritei e pulei de tanta felicidade, já vivi de amor e fiz juras eternas, e quebrei a cara muitas vezes! Já chorei ouvindo música e vendo fotos, já liguei só para escutar uma voz, me apaixonei por um sorriso, já pensei que fosse morrer de tanta saudade, tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo)! Mas vivi! E ainda vivo. Não passo pela vida. E você também não deveria passar. Viva!Bom mesmo é ir à '''luta com determinação, abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, por que o mundo pertence a quem se atreve. E a vida é muito para ser insignificante.

Charles Chaplin

sábado, 8 de dezembro de 2018


BASES, BOATES E SÃO LUÍS.
São Luís é a melhor cidade do mundo, deveria ser a capital do Nordeste e sempre teve vocação cosmopolita. Andamos sempre na frente das grandes cidades e aqui nada chegou depois ou por acaso. Os grandes fenômenos, as grandes causas, os modismos ou qualquer outra coisa, sempre esteve a frente dos grandes centros.
Quando todo o Brasil tinha medo de discutir ou tratar das questões GLTS, São Luís apresentava para o mundo a “Base da Pedrita”, uma verdadeira indústria de diversão e de tolerância. O mundo conhecia Miami através do filme a “Gaiola das Loucas” e aqui já existia a “Base da Pedrita”.
Ir para a “balada” foi um termo cunhado no Sudeste e significa ir para alguma diversão ou uma festa. O bom maranhense não vai para a balada, maranhense “raiz” ou maranhense autêntico faz ”base”. Aqui não tem Leblon, Ipanema, Jardins, Augusta ou outra rua ou bairro específico para diversão. Aqui tínhamos as “bases” espalhadas por toda a cidade e que ofereciam muita diversão. As bases eram bares, boates ou pontos de encontros, e alguns ficaram famosos e estão a décadas instaladas com um público fidelíssimo, o exemplo disso é a “Choperia Marcelo”.
Algumas bases tiveram duração efêmera e suas marcas permanecem na memória de muitos. O Recanto das Panteras ou a Base das Coroas remetem a uma sensação inigualável de prazer e saudade. A Base do Pompeu despertava em meus sobrinhos Paulinho e Maurício a sensação de curiosidade e de incomodo pelo barulho causado na voz de Amado Batista ou de WaldicK Soriano. As Boates Gata Mansa e Menina Veneno fizeram sucesso e o nome sugestivo dava a sensação de liberdade em plena ditadura militar na década de 1970.
No início da década de 1980 um bar em São Luís tentou mudar o padrão de diversão da cidade, o “Tom Maior” que ficava no bairro de São Francisco e com características modernas fugia do contexto de “base”, durou pouco tempo e não resistiu à tentação carnal das “bases”.
A URBV e a UBRA eram clubes sociais da classe média proletária e funcionavam como lazer nos finais de semana nos bairros de Fátima e Anil. A Ziloca era boate e base que reunia boêmios e humanos comuns, a boate ditava os ritmos e exibia os primeiros de DJs da cidade.
Nada, entretanto, é mais significativo e emblemático que o Clubão da Cohab.
Fica o registro de bases e boates e quem pensa que tudo isso era putaria, está totalmente engando.

sábado, 1 de dezembro de 2018

PURGATÓRIO

Parte I
A explosão de enxofre e medo
Inundou uma terra seca,
Árida
E sem vida.
Destruiu planos, 
E preparou o solo para as almas disformes e impiedosas.

Parte II

Será consumido por bactérias
E do teu corpo sobrará
Apenas os ossos,
Cabelos
uma roupa velha.
Da tua arrogância e prepotência,
Apenas restos mortais,
E de nada valeu as tuas mentiras e maldades,
Fostes imbecil.
E como teu escravo,
Será consumido por famintas bactérias
o teu glorioso passado
Não caberá no teu sepulcro,
Apenas o teu corpo
a podridão da tua alma.


Parte III

Não terás tempo para se vangloriar das tuas maldades,
Das tuas mentiras
E do teu ódio,
Tu não foste competente
Para conviver com o demônio.
Foste incapaz
Fracassaste na tua imperfeição
E não foste merecedor do inferno
Para sempre carregarás a culpa
E o menosprezo do demônio. 


sexta-feira, 30 de novembro de 2018


GARRAFEIRO, JORNALEIRO E GELEIRO OS NOSSOS AGENTES AMBIENTAIS.
Houve um tempo em que não existia no Brasil e principalmente em São Luís órgão fiscalizador do meio ambiente e muito menos secretária especializada no assunto. Não tínhamos nenhuma autoridade que entendesse da questão e nenhum político tirando proveito, ninguém sabia o que era efeito estufa, camada de ozônio ou preservação ambiental, exceto o Prof. Nascimento de Moraes e o paisagista Francisco de Paula Gomes.
Neste tempo, todo mundo pescava no Rio Anil, tomava banho no Rio Cururuca, fazia-se da Avenida Beira-Mar e das “croas” que se formavam na vazante praias paradisíacas. O Rio São João na estrada de São José com seus juçarais era de uma beleza inalcançável pela poluição e as praias de São Luís não conhecia coliformes fecais.
E o lixo doméstico por incrível que pareça era todo reciclado. E sem nenhuma política pública específica, o maranhense reciclava tudo o que consumia da forma mais correta. Reciclava o que não lhe servia, transformando esta atividade totalmente empírica, em geração de emprego e renda.
Quem não se lembra dos garrafeiros?
Os garrafeiros eram verdadeiros agentes do meio ambiente e diariamente com sacos de estopas, andavam pelas ruas da cidade comprando garrafas e litros de vidro, chamando a atenção da freguesia com a voz grave e marcante de “garrafeiro, garrafeiro.”
Jornaleiros não eram somente aqueles que vendiam jornais, eram também os que compravam jornais, revistas, papéis e papelões. Carregavam sozinhos o fruto da leitura de outros para sustento da sua família e ajudavam empiricamente na preservação do meio ambiente.
Havia os que compravam objetos de alumínio, latas, carcaças de motores, ventiladores quebrados e fios de cobre. Andavam em carroças e utilizavam a voz para comunicar a presença e o negócio.
E quando ninguém falava em crise energética e nós viviamos praticamente sem energia, o Maranhão economizava por obrigação e necessidade, guardando em geladeiras de querosene, em túneis e em tanques com gelo, o alimento que deveria ser conservado. Neste período existia um maranhense que vendia barras de gelo em uma carroça aluminizada sem nenhum sistema de refrigeração. Um sino anunciava a passagem do geleiro, sendo o precussor da venda com instrumentos barulhentos e inspirador da Tropigás.
Bebia-se água do pote e de bilha, e quem se aventurava em ir na Praia do Olho d’Água, tomava água da bica e se banhava no Rio Pimenta ou no Rio Jaguarema e de presente a natureza lhe oferecia murici, jambo, abil, guajuru e canapu.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

CUBA, MARANHÃO, CARIBE, REGGAE E UMA DOSE DE CACHAÇA.
Além da eleição do Bolsonaro, o assunto mais comentado nas redes sociais, foi o Programa Mais Médicos e os cubanos. A semelhança entre o povo do Caribe e o povo do Maranhão, fez com que, além dos serviços prestado, eles aqui se sentissem em casa, melhor, em Cuba, e os maranhenses, muito bem atendidos.
A simbiose entre Maranhão, África e Caribe há muito vem sendo tocada, ouvida e compassadamente, ao ritmo do coração, dançada em diversos salões de Reggae da ilha mais rebelde do mundo. Aqui se mistura todos os ritmos e todas as crenças. A mãe África nos deu xamãs, benzedeiros, curandeiros, pais e mães de santos. O Caribe nos trouxe o reggae e os cubanos para os nossos PSF.
Certa vez em visita ao penalvense Antônio, casado com a minha prima Gorete, proprietário do Restaurante Canto Certo, entre boa conversa e uma garfada no prato de mocotó, Antônio me convenceu a experimentar a famosa cachaça Jatobá e que segundo o penalvense além dos poderes afrodisíacos, tinha propriedades medicinais e era um excelente antigripal quando associado com limãozinho e sal. Experimentei e gostei do resultado. Comprovadamente a cachaça Jatobá a mais famosa da baixada maranhense, desce fácil e não deixa nenhum ardor na degustação. Jatobá é patrimônio imaterial de Penalva.
Lambedor, cachaça ou meota tem os seus doentes fiéis e usuários habituais, e se for ou não eficaz terapeuticamente, aí será uma outra história contada por Antônio, o xamã que não nasceu no Caribe, mais tem suas particularidades. A cachaça já foi aprovada por mim, Joãozinho Ribeiro e por mestre Garonne.
Diante de tantos fatos pitorescos que aconteceram nos últimos dias, veio a discussão sobre a semelhança e a relação de Cuba com o Maranhão. Cuba é uma ilha tal e qual São Luís, a capital maranhense. Cuba é rebelde que nem São Luís e ambas têm musicalidade e passam por grandes transformações. Cuba aos poucos se ver livre de um vil e cruel bloqueio econômico e aos poucos se aproxima do capitalismo sem perder sua identidade revolucionária. O Maranhão também passa por uma grande transformação, tem pela primeira vez na história do Brasil um governador comunista, reeleito democraticamente com 60% dos eleitores maranhenses, que confirmaram e aprovaram o projeto do governador, o que nos faz aproximar ainda mais da Ilha Castrense, sem perdermos nossa identidade, nossa musicalidade e nossa rebeldia. 
São Luís também se assemelha através da sua identidade cultural a uma outra ilha do Caribe, a Jamaica, bem menos revolucionária que a vizinha caribenha, mais rebelde que nem São Luís. E por conta desta semelhança, São Luís é identificada como a Jamaica Brasileira. Ademar Danilo, meu amigo, agitador social e cultural, Dj dos bons e responsável por diversas “pedras de responsa” que embalam nossa cidade, com certeza seria um excelente embaixador ou ministro das relações culturais entre as duas ilhas ou entre as três ilhas.

sábado, 10 de novembro de 2018


CINEMAS
Há alguns dias conversei com um amigo sobre cinema, filmes e salas de exibição. Por ser mais jovem, o meu amigo não conheceu os antigos cinemas de São Luís, lembrou-se apenas do Roxy e das sessões de filmes pornôs. Não conheceu o Éden, Rialto, Monte Castelo ou Passeio. Nasceu na decadência das grandes salas.
Comentei sobre a importância de José Bernardo Tajra no contexto cultural da cidade. José Bernardo era um dos maiores conhecedores de cinema no Brasil e um grande colecionador, seu acervo era fantástico. Possuía todas todos os filmes da Metro Gold Meyer e se dizia portador de uma doença chamada “metrite”. José Bernardo era filho de Moisés Tajra o maior empresário de cinema do Maranhão, talvez do Brasil.
Continuei a minha exposição, informando que Moisés Tajra havia sido proprietário dos Cines Éden, Roxy, Rialto, Rival, Rivoli e Ribamar, este último na cidade de São José de Ribamar. Os Cines São Luís, Monte Castelo e Passeio eram da família Dualibe. O Cine São Luís funcionou por um período no Teatro Artur Azevedo. Era muito cinema para uma população de 300 mil habitantes. Talvez por ser a única diversão da cidade, os cinemas tinham público e qualidade.
A conversa migrou para campo afetivo e confessei que o primeiro filme que assistir foi Paixão de Cristo. Ainda criança, assistir ao filme no Cine Ribamar em companhia da minha mãe, que chorou o filme inteiro, emocionada com o sofrimento de Jesus. O Cine Ribamar ficava ao lado da casa dos meus pais naquele município. Logo depois assistir alguns filmes de Mazaropi e algumas chanchadas da Atlântida no Cine São Luís. Em todas as ocasiões estava na companhia dos meus pais ou do meu irmão José Franklin ou da minha irmã Hamilena. Meu pai tinha um gosto apurado, gostava de ópera e de filmes do Charles Chaplin, o Carlito. Seu gosto musical o fazia ter uma fantástica coleção de disco de músicas clássicas. A coleção de ópera e de músicas clássicas conservo até hoje, alguns destes discos são de 45 rot./min.
A década de 1960 talvez tenha sido a mais profícua para o cinema, todas as salas exibiam grandes clássicos de crítica e de bilheteria. A sensibilidade artística e o bom gosto estético de José Bernardo e a visão comercial de Moisés Tajra fizeram de São Luís uma cidade de cinemas.
A minha lembrança cinematográfica vai bem além da “Paixão de Cristo”, dos filmes de Carlito ou das chanchadas da Atlântida. A minha primeira experiência da grandiosidade do cinema foi o grito do Tarzan e tenho quase certeza, que toda a minha geração ouviu ou repetiu pelo menos uma vez o grito do Tarzan.
A década de 1960 produziu muito além das minhas emoções infantis, produziu filmes como Lawrence da Arábia, o premiadíssimo musical Noviça Rebelde, o épico Spartacus, o revolucionário Perdidos na Noite, a ficção extraordinária de 2001: Uma odisseia no espaço; os românticos Dr. Jivago, Candelabro Italiano e Romeu e Julieta; o assustador Bebe de Rosemary; o clássico do western Os brutus também amam  e o lento e apaixonante pop do cinema francês Um homem e uma mulher. Todos exibidos em sala cheia nos cinemas da cidade. Foram muitos filmes e muitas histórias. Certa vez contabilizei mais de 100 filmes de sucesso da década de 1960, incluindo o cinema novo brasileiro.
A diferença de idade não impediu de um consenso: São Luís tem vocação para o cinema.

domingo, 28 de outubro de 2018


O DOMINGO COM MARROM GLACÊ

Tenho me preocupado nos últimos anos com o futuro do marrom glacê. Um doce pouco lembrado, mas que tem a cara e a marca registrada da sobremesa típica da casa dos meus pais.
O doce não era uma sobremesa comum, tinha lá seus encantos e particularidades. A marca preferida dos meus pais era Cica e era sempre servido após o almoço de domingo, na companhia do insubstituível e irresistível queijo de cuia.
O almoço especial do domingo tinha sempre galinha ao molho pardo e algumas vezes linguiça de Buriti Bravo trazida pelo seu Teodoro, um amigo de infância do meu pai, e como “petit resistece” alguma invenção culinária da minha irmã Hamilena, tirada dos seus inúmeros cadernos de receitas. O comando da cozinha era de Crizálida, uma negra quilombola, companheira dos meus pais enquanto tiveram vida, e de Crizálida, além do afeto e da companhia, trago a coroa de São Benedito como presente de casamento.
Durante o almoço discutíamos política, comíamos e bebíamos vinho tinto Raposa ou Cabeça de Touro. Às vezes, com finalidade de melhorar o sabor do vinho, adicionávamos guaraná Jesus, uma mistura bizarra que unia e divertia a minha família. Compartilhavam a mesa e a família: Teresa e anteriormente Marli e Estela.
Após o almoço o marrom glacê em companhia do queijo de cuia era servido triunfalmente e depois, em um ritual contemporâneo, brindávamos a alegria e a presença de todos sob a benção do aperitivo San Rafael e finalizávamos a tarde com alguns comprimidos de Metionina ou Xantinon B12.
A lembrança do marrom glacê surgiu em uma dessas conversas de fim de ano. E em época de nuked cake, tortas, pavês e sofisticados suflês, a simplicidade do marrom glacê e dos doces caseiros perde o espaço merecido e ganha o esquecimento moderno da sofisticação.
Neste domingo de eleição lembro um pouco dos doces de domingos da minha casa e da feliz convivência da família em volta de uma boa e simples mesa.
HAMILTON RAPOSO

quinta-feira, 25 de outubro de 2018


O BEIJO.
Nada mais
Seria santificado
Que o beijo,
Escárnio da traição
E volúpia abençoada
De cada dia.

O que se perdeu no juízo
Além das mãos falsamente limpas?

Nada!
E nada ficou como antes.

O beijo e as mãos
Continuam sujas e traiçoeiras.

sábado, 20 de outubro de 2018

Saúde Pública no Distrito Federal - Considerações Históricas, Razões do Atraso e Como Sair da Crise

Desde a construção da capital federal e sua inauguração em 1960, Brasília e as suas Cidades Satélites foram projetadas para ser um Modelo para o País e para o Mundo - Um Centro Administrativo no meio do cerrado, desde o Império, que interligasse todo o Brasil!
Os Hospitais, construídos no Plano Piloto e nas Satélites atendiam a demanda, ainda que menor, dos pacientes que procuravam atendimento primário, secundário e terciário. Pouco a pouco vieram os Centros de Saúde, todos sob o comando do Médico piauiense Jofran Frejat, que teve um papel de suma importância na execução da malha hospitalar às unidades  de saúde além da Equipe Multiprofissional como Médicos, Enfermeiros, Técnicos de Enfermagem e todo o suporte Administrativo para a Saúde.
Nos anos 60 e 70, Brasília tinha um exemplo de Saúde Pública. O Hospital Universitário era o Centro de Pesquisa projetado como um modelo para o Brasil.
Final de 70 e 80, com a explosão demográfica, políticas públicas para erradicar invasões e acolher os imigrantes foram implementadas e a demanda tornou-se imensa, enorme, necessitando de medidas sanitárias como a  saúde campanhista,
com imunizações em massa, prevenção mais primária do que secundária e terciária.
A Carta de 1988 criou o Sistema Único de Saúde(SUS), que previa um modelo descentralizado, com equidade e que fosse um "direito de todos e dever do Estado", livre à iniciativa privada que atuaria de forma complementar, priorizando as Instituições sem fins lucrativos, que promoveria o Ensino e a Pesquisa. Um projeto amplo, ambicloso e democrático, engendrado ao longo de décadas. Desde 1975 que queriamos esse Sistema! Das Caixas de Assistência ao Suds, Conasp ao
SUS, o Brasil já era um país continental e o Distrito Federal logo se adequou ao modelo e suas Normas Operacionais, nos anos 90, e durante toda essa década, a pactuação foi feita com a Rede Privada, que já era grande e moderna. Nos anos 2000, já iniciada a Estratégia Saúde da Família, com a finalidade de prevenção primária e secundária, médicos foram contratados e toda a Equipe Multidisciplinar para atender a Rede de Saúde do Distrito Federal, ainda que enfrentando as dificuldades de um  pequeno efetivo para atender as demandas da população usuária do Sistema.
No final dos anos 90, as dificuldades vieram com as más gestões na Estratégia Saúde da Família (ESF), com a contratação do Instituto Candango, uma Organização Social que até hoje deve os profissionais por ela contratada para implementar a Atenção Básica, dívida essa que o Governo do Distrito Federal (GDF) foi obrigado pelo Tribunal Superior do Trabalho(TST) a pagar a conta.
Durante os anos do Presidente Fernando Henrique Cardoso, de 96 a 2002 a Saude Brasiliense, ainda dependente de Recursos da União, pela Lei 8142/90, e com a onda das terceirizações sem criar auto-gestão, somente em firmar contratos com a iniciativa privada, a Saúde Pública, já com uma demanda imensa de usuários, a procura por Saúde de imigrantes de todo o Brasil, à falta de Regulamentação do SUS, desorganizaram todas as propostas de políticas públicas de saúde  para o Brasil e o Distrito Federal.
Os anos subsequentes, na Gestão Federal de Luís Inácio, o Lula e Dilma, de 2003 a 2016, quando essa fora afastada por corrupção, Brasília sofreu a atonia, a falta de gestão efetiva e inteligente para implementar a Saúde Pública, já em plena Regulamentação deste com o Decreto 7508/2011, que criou as Regiões de Saúde.
A Gestão Arruda foi marcado por terceirizações sem o Controle Social e nem seguiu a tônica da responsabilidade econômica com a Saude.
Agnelo Queiroz tentou suprir as carências de recursos humanos e tecnológicos. Contratou temporariamente serviu como um "medicamento de emergência" em todo o seu governo.
Rollemberg assumiu em "Estado de Emergência" até hoje, e deixou a Saúde Pública na sua pior situação.
Foi uma continuidade do governo do Partido dos Trabalhadores piorado.
Hesitante, retroagiu e conseguiu destruir toda a Organização Gestora em todas as Áreas da Saúde. Perseguiu Médicos, tirando gratificações, conquistas de longas lutas, acabou com as "horas-extras", golpeando o Servidor, colocou servidores de níveis inferiores para se inserir em gestões que requerem nível superior -inverteu a pirâmide, assediou funcionários, o Hospitais estão em petição de miséria, criou "Regiões de Saúde" que nunca alcançaram os seus objetivos, agravando mais a crise... Servidores públicos da Saúde entramos em depressão, adoecendo psiquiatricamente... Absenteísmo em quase 80 por cento... "Pirateou" o Hospital de Base, o Hospital Materno Infantil com uma terceirização esquizofrênica. Avançou no Instituto de Saúde Mental... Para terceirizar somente com o fito de burlar a legislação de compras...
Psiquiatria e Saúde Mental... Centro de Atenção Psicossocial inertes...
Uma "conta" elevada para o próximo Governador...
A população ouve as propostas de IBANEIS ROCHA, candidato do MDB. Jovem, com muita experiência em gestão, como Presidente da OAB-DF e  Advogado do Sindjus, têm todos os instrumentos e apoio popular para executar um grande governo, acolhendo bem o povo brasiliense, empreendendo, com
altivez e lisura, total respeito pelo erário público, o que lhe é peculiar, rumo a um novo Distrito Federal, em que todos nós, da Sociedade Civil, da Saúde e todas as Áreas da Administração voltemos a sorrir e a trabalhar emulados, reconstruindo a nossa Cidade, com a auto-estima elevada!
Brasília (DF), 20 de Outubro de 2018
Allan Duailibe