sábado, 10 de novembro de 2018


CINEMAS
Há alguns dias conversei com um amigo sobre cinema, filmes e salas de exibição. Por ser mais jovem, o meu amigo não conheceu os antigos cinemas de São Luís, lembrou-se apenas do Roxy e das sessões de filmes pornôs. Não conheceu o Éden, Rialto, Monte Castelo ou Passeio. Nasceu na decadência das grandes salas.
Comentei sobre a importância de José Bernardo Tajra no contexto cultural da cidade. José Bernardo era um dos maiores conhecedores de cinema no Brasil e um grande colecionador, seu acervo era fantástico. Possuía todas todos os filmes da Metro Gold Meyer e se dizia portador de uma doença chamada “metrite”. José Bernardo era filho de Moisés Tajra o maior empresário de cinema do Maranhão, talvez do Brasil.
Continuei a minha exposição, informando que Moisés Tajra havia sido proprietário dos Cines Éden, Roxy, Rialto, Rival, Rivoli e Ribamar, este último na cidade de São José de Ribamar. Os Cines São Luís, Monte Castelo e Passeio eram da família Dualibe. O Cine São Luís funcionou por um período no Teatro Artur Azevedo. Era muito cinema para uma população de 300 mil habitantes. Talvez por ser a única diversão da cidade, os cinemas tinham público e qualidade.
A conversa migrou para campo afetivo e confessei que o primeiro filme que assistir foi Paixão de Cristo. Ainda criança, assistir ao filme no Cine Ribamar em companhia da minha mãe, que chorou o filme inteiro, emocionada com o sofrimento de Jesus. O Cine Ribamar ficava ao lado da casa dos meus pais naquele município. Logo depois assistir alguns filmes de Mazaropi e algumas chanchadas da Atlântida no Cine São Luís. Em todas as ocasiões estava na companhia dos meus pais ou do meu irmão José Franklin ou da minha irmã Hamilena. Meu pai tinha um gosto apurado, gostava de ópera e de filmes do Charles Chaplin, o Carlito. Seu gosto musical o fazia ter uma fantástica coleção de disco de músicas clássicas. A coleção de ópera e de músicas clássicas conservo até hoje, alguns destes discos são de 45 rot./min.
A década de 1960 talvez tenha sido a mais profícua para o cinema, todas as salas exibiam grandes clássicos de crítica e de bilheteria. A sensibilidade artística e o bom gosto estético de José Bernardo e a visão comercial de Moisés Tajra fizeram de São Luís uma cidade de cinemas.
A minha lembrança cinematográfica vai bem além da “Paixão de Cristo”, dos filmes de Carlito ou das chanchadas da Atlântida. A minha primeira experiência da grandiosidade do cinema foi o grito do Tarzan e tenho quase certeza, que toda a minha geração ouviu ou repetiu pelo menos uma vez o grito do Tarzan.
A década de 1960 produziu muito além das minhas emoções infantis, produziu filmes como Lawrence da Arábia, o premiadíssimo musical Noviça Rebelde, o épico Spartacus, o revolucionário Perdidos na Noite, a ficção extraordinária de 2001: Uma odisseia no espaço; os românticos Dr. Jivago, Candelabro Italiano e Romeu e Julieta; o assustador Bebe de Rosemary; o clássico do western Os brutus também amam  e o lento e apaixonante pop do cinema francês Um homem e uma mulher. Todos exibidos em sala cheia nos cinemas da cidade. Foram muitos filmes e muitas histórias. Certa vez contabilizei mais de 100 filmes de sucesso da década de 1960, incluindo o cinema novo brasileiro.
A diferença de idade não impediu de um consenso: São Luís tem vocação para o cinema.

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