sexta-feira, 30 de novembro de 2018


GARRAFEIRO, JORNALEIRO E GELEIRO OS NOSSOS AGENTES AMBIENTAIS.
Houve um tempo em que não existia no Brasil e principalmente em São Luís órgão fiscalizador do meio ambiente e muito menos secretária especializada no assunto. Não tínhamos nenhuma autoridade que entendesse da questão e nenhum político tirando proveito, ninguém sabia o que era efeito estufa, camada de ozônio ou preservação ambiental, exceto o Prof. Nascimento de Moraes e o paisagista Francisco de Paula Gomes.
Neste tempo, todo mundo pescava no Rio Anil, tomava banho no Rio Cururuca, fazia-se da Avenida Beira-Mar e das “croas” que se formavam na vazante praias paradisíacas. O Rio São João na estrada de São José com seus juçarais era de uma beleza inalcançável pela poluição e as praias de São Luís não conhecia coliformes fecais.
E o lixo doméstico por incrível que pareça era todo reciclado. E sem nenhuma política pública específica, o maranhense reciclava tudo o que consumia da forma mais correta. Reciclava o que não lhe servia, transformando esta atividade totalmente empírica, em geração de emprego e renda.
Quem não se lembra dos garrafeiros?
Os garrafeiros eram verdadeiros agentes do meio ambiente e diariamente com sacos de estopas, andavam pelas ruas da cidade comprando garrafas e litros de vidro, chamando a atenção da freguesia com a voz grave e marcante de “garrafeiro, garrafeiro.”
Jornaleiros não eram somente aqueles que vendiam jornais, eram também os que compravam jornais, revistas, papéis e papelões. Carregavam sozinhos o fruto da leitura de outros para sustento da sua família e ajudavam empiricamente na preservação do meio ambiente.
Havia os que compravam objetos de alumínio, latas, carcaças de motores, ventiladores quebrados e fios de cobre. Andavam em carroças e utilizavam a voz para comunicar a presença e o negócio.
E quando ninguém falava em crise energética e nós viviamos praticamente sem energia, o Maranhão economizava por obrigação e necessidade, guardando em geladeiras de querosene, em túneis e em tanques com gelo, o alimento que deveria ser conservado. Neste período existia um maranhense que vendia barras de gelo em uma carroça aluminizada sem nenhum sistema de refrigeração. Um sino anunciava a passagem do geleiro, sendo o precussor da venda com instrumentos barulhentos e inspirador da Tropigás.
Bebia-se água do pote e de bilha, e quem se aventurava em ir na Praia do Olho d’Água, tomava água da bica e se banhava no Rio Pimenta ou no Rio Jaguarema e de presente a natureza lhe oferecia murici, jambo, abil, guajuru e canapu.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

CUBA, MARANHÃO, CARIBE, REGGAE E UMA DOSE DE CACHAÇA.
Além da eleição do Bolsonaro, o assunto mais comentado nas redes sociais, foi o Programa Mais Médicos e os cubanos. A semelhança entre o povo do Caribe e o povo do Maranhão, fez com que, além dos serviços prestado, eles aqui se sentissem em casa, melhor, em Cuba, e os maranhenses, muito bem atendidos.
A simbiose entre Maranhão, África e Caribe há muito vem sendo tocada, ouvida e compassadamente, ao ritmo do coração, dançada em diversos salões de Reggae da ilha mais rebelde do mundo. Aqui se mistura todos os ritmos e todas as crenças. A mãe África nos deu xamãs, benzedeiros, curandeiros, pais e mães de santos. O Caribe nos trouxe o reggae e os cubanos para os nossos PSF.
Certa vez em visita ao penalvense Antônio, casado com a minha prima Gorete, proprietário do Restaurante Canto Certo, entre boa conversa e uma garfada no prato de mocotó, Antônio me convenceu a experimentar a famosa cachaça Jatobá e que segundo o penalvense além dos poderes afrodisíacos, tinha propriedades medicinais e era um excelente antigripal quando associado com limãozinho e sal. Experimentei e gostei do resultado. Comprovadamente a cachaça Jatobá a mais famosa da baixada maranhense, desce fácil e não deixa nenhum ardor na degustação. Jatobá é patrimônio imaterial de Penalva.
Lambedor, cachaça ou meota tem os seus doentes fiéis e usuários habituais, e se for ou não eficaz terapeuticamente, aí será uma outra história contada por Antônio, o xamã que não nasceu no Caribe, mais tem suas particularidades. A cachaça já foi aprovada por mim, Joãozinho Ribeiro e por mestre Garonne.
Diante de tantos fatos pitorescos que aconteceram nos últimos dias, veio a discussão sobre a semelhança e a relação de Cuba com o Maranhão. Cuba é uma ilha tal e qual São Luís, a capital maranhense. Cuba é rebelde que nem São Luís e ambas têm musicalidade e passam por grandes transformações. Cuba aos poucos se ver livre de um vil e cruel bloqueio econômico e aos poucos se aproxima do capitalismo sem perder sua identidade revolucionária. O Maranhão também passa por uma grande transformação, tem pela primeira vez na história do Brasil um governador comunista, reeleito democraticamente com 60% dos eleitores maranhenses, que confirmaram e aprovaram o projeto do governador, o que nos faz aproximar ainda mais da Ilha Castrense, sem perdermos nossa identidade, nossa musicalidade e nossa rebeldia. 
São Luís também se assemelha através da sua identidade cultural a uma outra ilha do Caribe, a Jamaica, bem menos revolucionária que a vizinha caribenha, mais rebelde que nem São Luís. E por conta desta semelhança, São Luís é identificada como a Jamaica Brasileira. Ademar Danilo, meu amigo, agitador social e cultural, Dj dos bons e responsável por diversas “pedras de responsa” que embalam nossa cidade, com certeza seria um excelente embaixador ou ministro das relações culturais entre as duas ilhas ou entre as três ilhas.

sábado, 10 de novembro de 2018


CINEMAS
Há alguns dias conversei com um amigo sobre cinema, filmes e salas de exibição. Por ser mais jovem, o meu amigo não conheceu os antigos cinemas de São Luís, lembrou-se apenas do Roxy e das sessões de filmes pornôs. Não conheceu o Éden, Rialto, Monte Castelo ou Passeio. Nasceu na decadência das grandes salas.
Comentei sobre a importância de José Bernardo Tajra no contexto cultural da cidade. José Bernardo era um dos maiores conhecedores de cinema no Brasil e um grande colecionador, seu acervo era fantástico. Possuía todas todos os filmes da Metro Gold Meyer e se dizia portador de uma doença chamada “metrite”. José Bernardo era filho de Moisés Tajra o maior empresário de cinema do Maranhão, talvez do Brasil.
Continuei a minha exposição, informando que Moisés Tajra havia sido proprietário dos Cines Éden, Roxy, Rialto, Rival, Rivoli e Ribamar, este último na cidade de São José de Ribamar. Os Cines São Luís, Monte Castelo e Passeio eram da família Dualibe. O Cine São Luís funcionou por um período no Teatro Artur Azevedo. Era muito cinema para uma população de 300 mil habitantes. Talvez por ser a única diversão da cidade, os cinemas tinham público e qualidade.
A conversa migrou para campo afetivo e confessei que o primeiro filme que assistir foi Paixão de Cristo. Ainda criança, assistir ao filme no Cine Ribamar em companhia da minha mãe, que chorou o filme inteiro, emocionada com o sofrimento de Jesus. O Cine Ribamar ficava ao lado da casa dos meus pais naquele município. Logo depois assistir alguns filmes de Mazaropi e algumas chanchadas da Atlântida no Cine São Luís. Em todas as ocasiões estava na companhia dos meus pais ou do meu irmão José Franklin ou da minha irmã Hamilena. Meu pai tinha um gosto apurado, gostava de ópera e de filmes do Charles Chaplin, o Carlito. Seu gosto musical o fazia ter uma fantástica coleção de disco de músicas clássicas. A coleção de ópera e de músicas clássicas conservo até hoje, alguns destes discos são de 45 rot./min.
A década de 1960 talvez tenha sido a mais profícua para o cinema, todas as salas exibiam grandes clássicos de crítica e de bilheteria. A sensibilidade artística e o bom gosto estético de José Bernardo e a visão comercial de Moisés Tajra fizeram de São Luís uma cidade de cinemas.
A minha lembrança cinematográfica vai bem além da “Paixão de Cristo”, dos filmes de Carlito ou das chanchadas da Atlântida. A minha primeira experiência da grandiosidade do cinema foi o grito do Tarzan e tenho quase certeza, que toda a minha geração ouviu ou repetiu pelo menos uma vez o grito do Tarzan.
A década de 1960 produziu muito além das minhas emoções infantis, produziu filmes como Lawrence da Arábia, o premiadíssimo musical Noviça Rebelde, o épico Spartacus, o revolucionário Perdidos na Noite, a ficção extraordinária de 2001: Uma odisseia no espaço; os românticos Dr. Jivago, Candelabro Italiano e Romeu e Julieta; o assustador Bebe de Rosemary; o clássico do western Os brutus também amam  e o lento e apaixonante pop do cinema francês Um homem e uma mulher. Todos exibidos em sala cheia nos cinemas da cidade. Foram muitos filmes e muitas histórias. Certa vez contabilizei mais de 100 filmes de sucesso da década de 1960, incluindo o cinema novo brasileiro.
A diferença de idade não impediu de um consenso: São Luís tem vocação para o cinema.