domingo, 28 de outubro de 2018


O DOMINGO COM MARROM GLACÊ

Tenho me preocupado nos últimos anos com o futuro do marrom glacê. Um doce pouco lembrado, mas que tem a cara e a marca registrada da sobremesa típica da casa dos meus pais.
O doce não era uma sobremesa comum, tinha lá seus encantos e particularidades. A marca preferida dos meus pais era Cica e era sempre servido após o almoço de domingo, na companhia do insubstituível e irresistível queijo de cuia.
O almoço especial do domingo tinha sempre galinha ao molho pardo e algumas vezes linguiça de Buriti Bravo trazida pelo seu Teodoro, um amigo de infância do meu pai, e como “petit resistece” alguma invenção culinária da minha irmã Hamilena, tirada dos seus inúmeros cadernos de receitas. O comando da cozinha era de Crizálida, uma negra quilombola, companheira dos meus pais enquanto tiveram vida, e de Crizálida, além do afeto e da companhia, trago a coroa de São Benedito como presente de casamento.
Durante o almoço discutíamos política, comíamos e bebíamos vinho tinto Raposa ou Cabeça de Touro. Às vezes, com finalidade de melhorar o sabor do vinho, adicionávamos guaraná Jesus, uma mistura bizarra que unia e divertia a minha família. Compartilhavam a mesa e a família: Teresa e anteriormente Marli e Estela.
Após o almoço o marrom glacê em companhia do queijo de cuia era servido triunfalmente e depois, em um ritual contemporâneo, brindávamos a alegria e a presença de todos sob a benção do aperitivo San Rafael e finalizávamos a tarde com alguns comprimidos de Metionina ou Xantinon B12.
A lembrança do marrom glacê surgiu em uma dessas conversas de fim de ano. E em época de nuked cake, tortas, pavês e sofisticados suflês, a simplicidade do marrom glacê e dos doces caseiros perde o espaço merecido e ganha o esquecimento moderno da sofisticação.
Neste domingo de eleição lembro um pouco dos doces de domingos da minha casa e da feliz convivência da família em volta de uma boa e simples mesa.
HAMILTON RAPOSO

quinta-feira, 25 de outubro de 2018


O BEIJO.
Nada mais
Seria santificado
Que o beijo,
Escárnio da traição
E volúpia abençoada
De cada dia.

O que se perdeu no juízo
Além das mãos falsamente limpas?

Nada!
E nada ficou como antes.

O beijo e as mãos
Continuam sujas e traiçoeiras.

sábado, 20 de outubro de 2018

Saúde Pública no Distrito Federal - Considerações Históricas, Razões do Atraso e Como Sair da Crise

Desde a construção da capital federal e sua inauguração em 1960, Brasília e as suas Cidades Satélites foram projetadas para ser um Modelo para o País e para o Mundo - Um Centro Administrativo no meio do cerrado, desde o Império, que interligasse todo o Brasil!
Os Hospitais, construídos no Plano Piloto e nas Satélites atendiam a demanda, ainda que menor, dos pacientes que procuravam atendimento primário, secundário e terciário. Pouco a pouco vieram os Centros de Saúde, todos sob o comando do Médico piauiense Jofran Frejat, que teve um papel de suma importância na execução da malha hospitalar às unidades  de saúde além da Equipe Multiprofissional como Médicos, Enfermeiros, Técnicos de Enfermagem e todo o suporte Administrativo para a Saúde.
Nos anos 60 e 70, Brasília tinha um exemplo de Saúde Pública. O Hospital Universitário era o Centro de Pesquisa projetado como um modelo para o Brasil.
Final de 70 e 80, com a explosão demográfica, políticas públicas para erradicar invasões e acolher os imigrantes foram implementadas e a demanda tornou-se imensa, enorme, necessitando de medidas sanitárias como a  saúde campanhista,
com imunizações em massa, prevenção mais primária do que secundária e terciária.
A Carta de 1988 criou o Sistema Único de Saúde(SUS), que previa um modelo descentralizado, com equidade e que fosse um "direito de todos e dever do Estado", livre à iniciativa privada que atuaria de forma complementar, priorizando as Instituições sem fins lucrativos, que promoveria o Ensino e a Pesquisa. Um projeto amplo, ambicloso e democrático, engendrado ao longo de décadas. Desde 1975 que queriamos esse Sistema! Das Caixas de Assistência ao Suds, Conasp ao
SUS, o Brasil já era um país continental e o Distrito Federal logo se adequou ao modelo e suas Normas Operacionais, nos anos 90, e durante toda essa década, a pactuação foi feita com a Rede Privada, que já era grande e moderna. Nos anos 2000, já iniciada a Estratégia Saúde da Família, com a finalidade de prevenção primária e secundária, médicos foram contratados e toda a Equipe Multidisciplinar para atender a Rede de Saúde do Distrito Federal, ainda que enfrentando as dificuldades de um  pequeno efetivo para atender as demandas da população usuária do Sistema.
No final dos anos 90, as dificuldades vieram com as más gestões na Estratégia Saúde da Família (ESF), com a contratação do Instituto Candango, uma Organização Social que até hoje deve os profissionais por ela contratada para implementar a Atenção Básica, dívida essa que o Governo do Distrito Federal (GDF) foi obrigado pelo Tribunal Superior do Trabalho(TST) a pagar a conta.
Durante os anos do Presidente Fernando Henrique Cardoso, de 96 a 2002 a Saude Brasiliense, ainda dependente de Recursos da União, pela Lei 8142/90, e com a onda das terceirizações sem criar auto-gestão, somente em firmar contratos com a iniciativa privada, a Saúde Pública, já com uma demanda imensa de usuários, a procura por Saúde de imigrantes de todo o Brasil, à falta de Regulamentação do SUS, desorganizaram todas as propostas de políticas públicas de saúde  para o Brasil e o Distrito Federal.
Os anos subsequentes, na Gestão Federal de Luís Inácio, o Lula e Dilma, de 2003 a 2016, quando essa fora afastada por corrupção, Brasília sofreu a atonia, a falta de gestão efetiva e inteligente para implementar a Saúde Pública, já em plena Regulamentação deste com o Decreto 7508/2011, que criou as Regiões de Saúde.
A Gestão Arruda foi marcado por terceirizações sem o Controle Social e nem seguiu a tônica da responsabilidade econômica com a Saude.
Agnelo Queiroz tentou suprir as carências de recursos humanos e tecnológicos. Contratou temporariamente serviu como um "medicamento de emergência" em todo o seu governo.
Rollemberg assumiu em "Estado de Emergência" até hoje, e deixou a Saúde Pública na sua pior situação.
Foi uma continuidade do governo do Partido dos Trabalhadores piorado.
Hesitante, retroagiu e conseguiu destruir toda a Organização Gestora em todas as Áreas da Saúde. Perseguiu Médicos, tirando gratificações, conquistas de longas lutas, acabou com as "horas-extras", golpeando o Servidor, colocou servidores de níveis inferiores para se inserir em gestões que requerem nível superior -inverteu a pirâmide, assediou funcionários, o Hospitais estão em petição de miséria, criou "Regiões de Saúde" que nunca alcançaram os seus objetivos, agravando mais a crise... Servidores públicos da Saúde entramos em depressão, adoecendo psiquiatricamente... Absenteísmo em quase 80 por cento... "Pirateou" o Hospital de Base, o Hospital Materno Infantil com uma terceirização esquizofrênica. Avançou no Instituto de Saúde Mental... Para terceirizar somente com o fito de burlar a legislação de compras...
Psiquiatria e Saúde Mental... Centro de Atenção Psicossocial inertes...
Uma "conta" elevada para o próximo Governador...
A população ouve as propostas de IBANEIS ROCHA, candidato do MDB. Jovem, com muita experiência em gestão, como Presidente da OAB-DF e  Advogado do Sindjus, têm todos os instrumentos e apoio popular para executar um grande governo, acolhendo bem o povo brasiliense, empreendendo, com
altivez e lisura, total respeito pelo erário público, o que lhe é peculiar, rumo a um novo Distrito Federal, em que todos nós, da Sociedade Civil, da Saúde e todas as Áreas da Administração voltemos a sorrir e a trabalhar emulados, reconstruindo a nossa Cidade, com a auto-estima elevada!
Brasília (DF), 20 de Outubro de 2018
Allan Duailibe

O oratório ficava num canto do quarto,
Era um pequeno altar,
Um santuário de todos os santos,
Santos de todas as devoções.
II
Diferentemente do céu,
Não havia no oratório
Ordem entre os santos,
Na frente de todos
O santo da penitência
Ou da promessa do dia,
Todos sob o olhar observador
E vigilante de um Jesus crucificado.
III
O oratório ficava sobre uma cômoda
E quebrava a monotonia
Do quarto de moveis escuros
E com cheiro de patchouli,
Na frente
 O fogo consumia tortuosamente uma vela,
Que iluminava a escuridão do quarto
E o vazio absoluto
Que o tempo impõe a vida.
IV
O tempo passou,
A vela se apagou,
A vida acabou,
O oratório mudou de lugar
E os santos se dispensaram entre o céu e a terra.


sexta-feira, 12 de outubro de 2018


POEMA PARA DEUS

PARTE  I

O esterco estava sobre a mesa,
O banquete seria servido,
Começava o festival da decadência...
Estavam reunidos
Os famintos incongruentes,
Vorazes da devassidão,
Crustáceos do anonimato
E da escuridão absurda da alma humana.

Todos
Transvestidos em legalistas
E leguleios do passado hipócrita,
Que satisfazem na mesa
A sua fome idólatra,
Com o caos da moralidade.

Alimentam-se do seu próprio vômito,
E no pedestal do medo e da fantasia,
O ódio se fez vida
E do ódio criaste uma geração.

Assim ruminas o vento,
Que, com sussurros inaudíveis,
Lamentam a decomposição enigmática do rei.






Satisfeitos,
Os varões de moral marmórea
Estupram a verdade
E se ajoelham aos pés santíssimos,
Confessando profanamente,
A bem-aventurança da mentira.

PARTE II
A leveza do pecador
É a graça da vingança,
É a graça do humilde,
É a tua vontade em permitir,
Ao intrépido perseguidor,
Ao nefasto moralista,
Ao príncipe da desigualdade e do ódio,
Ao maligno da devassidão,
Que encontre o seu caminho
Na escuridão úmida
Das tormentas destruidoras
E das erupções ardentes,
Que queimarão a tua alma disforme,
Falsa,
Hipócrita e destruidora.

De ti nada restará,
Do pó vieste
E ao pó retornarás...
E não levarás coroa de flores
E o teu jazigo será esquecido
No anonimato dos defuntos
E na imensidão do inferno.



Foi consumada
A vingança da graça,
A vingança do humilde
E daquele que se fez oprimido.


PARTE III

Por onde tu andas,
Se deixaste sem nenhuma misericórdia
Aqueles que te deram vida,
Aqueles que te dão vida?

Por onde tu andas,
Se deixaste triunfar
O príncipe opressor,
O Senhor da Maldade,
O cristão devasso,
Incenso do ódio
E perseguidor (dos fracos) ?

Por onde tu andas,
Se deixaste morrer e sangrar
Aqueles que deveriam ir a ti,
Vítimas da intolerância
Dos que clamam pelo teu nome?

Por onde tu andas,
Se deixaste a sangria diária
Dos imperfeitos
E das Marias de todos os dias
Apunhaladas pela espada falsa do amor?

Por onde tu andas,
Se deixaste que o amor manso e pacífico
Fosse covardemente
Assassinado pela mentira e violência?

Por onde tu andas,
Se deixaste de servir a mesa,
Para florescer a devassidão da fome,
E permitiste que o carvão,
O calor insalubre
E a lama de Mariana
Estivesse à mesa?

Por onde tu andas
E por que permites
A inversão da lógica da igualdade
E da subalterna divisão do pão nosso de cada dia?
Por onde tu andas?
“Eu estou aqui”!


PARTE IV

A mão foi estendida
E a nau
Foi ancorada
Em porto seguro.

Foste salvo pela graça
Daquele que te abandonou
E que foi tolerante com o opressor.



Foste salvo pela graça
E com a bandeira de luta,
Da honra e da graça,
Venceste o inimigo invisível
E cruel.

Com a força da obra
Fizeste a tua história,
A história que podes contar
E não a que deverias contar.

E tu, escravo,
Oprimido
E miserável,
Que caminhaste entre espinhos
E descalço pisaste a lama tóxica,
Trôpego e maltrapilho,
Ganhaste a liberdade,
Rompeste a incredulidade
E te tornaste livre.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018


O MARANHÃO É DE DÁ ÁGUA NA BOCA
Tem gente que faz de conta que não gosta, alguns não gostam, são uns chatos, outros comem escondidos e muitos se lambuzam e não negam as raízes, riquezas e benquerenças do Maranhão.
Imagine uma pescada frita? Se for cozida tem que ter ovo cozido e uma “nesga” de pimenta malagueta, passou do ponto, fica ardida e tira o sabor da pescada. Uritinga, gurijuba, tainha e bandeirada se estiverem gordos, ficam ainda melhor. Um detalhe: bandeirada tem quer assado no fogareiro. Tainha só pode ser moqueada na folha de bananeira. Peixe serra frito é a companhia imprescindível e preferida para o arroz com cuxá.  O peixe pedra é um caso à parte, o melhor de todos, come-se de todo jeito, inventaram até uma versão sem espinha. Tudo é de encher os olhos, o coração de orgulho e o estomago de gostosura.
Camarão frito, cozido, seco, de qualquer forma ou de qualquer jeito, como a imaginação determina, e se for de Tutóia, Santo Amaro, Primeira Cruz ou Humberto de Campos leva selo e grife de qualidade, o melhor do mundo!
Caranguejo, sururu no leite de coco e sarnambi come-se em qualquer lugar, em casa ou na praia, o que vale é o prazer de tê-los e de comê-los sempre temperado com pimenta de cheiro. Assino e comprova é o melhor antídoto para ressaca.
Piaba, traíra, mandi, mandubé, muçum e bagrinho delícias da água doce, dos campos da baixada ou dos perenes Mearim e Pindaré. A ceia de bagrinho é patrimônio cultural, gastronômico e histórico da cidade de Pinheiro.
Não esqueça que a farinha d’água é o acompanhamento principal do maranhense e tanto faz ser de Carema, Biriba ou de qualquer região do estado, com coco ou sem coco, come-se com tudo e a toda hora, come-se até com café, misturada com açúcar, com banana ou ovo frito. O maranhense adora ter indigestão e refluxo por farinha d’água.
Galinha de parida com pirão escaldado, bode no leite de coco, capão recheado, arroz de Maria Isabel com banana e paçoca feita no pilão, sarapatel, buchada de bode e linguiça, tem que ter a grife do sertão, Caxias, Buriti Bravo, Mirador ou qualquer cidade da região, são delícias da culinária e refeições para os fortes de estômago e de espírito, os fracos que me perdoe, devem limitar-se aos peixes e camarões.
Pato ao molho pardo, se possível o de Anajatuba, o famoso pato Paissandu, grande e gordo, do tamanho da fome e do desejo. Invejado pelos paraenses e na nossa culinária não acrescentamos o tucupi, ficamos na sua forma mais original, o pato ao molho pardo.
Maranhense não faz dieta, dificilmente será um vegetariano, verduras? Nos limitamos ao jongome e vinagreira. As frutas fazem parte da riquíssima gastronomia maranhense e delas, saboreia-se o canapu, pitomba, cajazinho, caju, siriguela, bacuri, juçara, abricó, abacaxi de Turiaçu, melancia de Arari, jaca de bago duro ou mole, murici, sapoti e manga de todas as versões, de fiapo, rosa, espada, constantina e manguita.
Queijo tem que ser o de São Bento, não existe igual, nem a França com sua tradição em queijos conseguiu fazer igual. Combina com qualquer sobremesa maranhense. Escolha uma e não se preocupe com a harmonia e com a balança, tudo lhe é permitido: doce de leite, goiaba em caldas, cajui e caju em caldas, doce de buriti, mamão verde, casca de laranja da terra ou línguas de bacuri. Se você quiser um café não se esqueça do beiju, bolo frito, cuscuz ou manuê. Até um quebra-queixo é recomendado.
Para beber escolha cachaça de Santo Antônio dos Lopes, Ibipira de Mirador ou Jatobá de Penalva. Se quiser uma tiquira tome cuidado em não banhar ou molhar os pés. E para adocicar mais ainda a vida do maranhense temos o Guaraná Jesus, o sorvete de coco na casquinha e não se arrenda em ser, sinta-se maranhense e viva a maranhensidade!

terça-feira, 9 de outubro de 2018


POEMA PARA O DEMÔNIO

I

“Abram-se as cortinas,
Acendam-se as luzes,
Vai começar o maior espetáculo da Terra,
Um show de luzes e cores,
Que jamais será esquecido”.

Assim anunciava
Um vassalo anfitrião,
O mestre-de-ordem do Império
E candidato ao fracasso eterno.

II

A entrada é franca
E ninguém deve faltar
Ao magnifico show da vida.
Os déspotas,
Iluministas do engodo,
Anfitriões da mentira
E cortesãos do reino,
Estavam ali
Para dar alegria ao povo,
Ao pobre povo,
Sempre sedento
De pão,
Vida
E alegria.

III

Juntavam-se,
E a cada mentira contada,
Mais o povo se ajuntava...
Estavam felizes,
Haveria diversão
E comida.
Os enamorados,
Os ardentes de paixão,
Teriam energia sexual inesgotável,
Ninguém mais trabalhará,
Haverá de ser decretado
O estado permanente do prazer.

IV


O reino pareceria um circo,
Havia luzes em todos os lugares,
Pois os atores
Eram os malabaristas da vida,
Doutores,
Gente como a gente...
E para facilitar a entrada dos convidados,
Os cortesãos,
Bajuladores de ofício,
Mentirosos de plantão,
Alpinistas sociais
E embusteiros,
Recepcionavam os convidados
Com a falsidade
E a malícia dos famosos.

V

O grande apresentador
Do reino encantado
Vestia-se soberbamente.
No rosto maquiado,
Trazia o sorriso do convencimento
E a alegria comum dos bem-nascidos.
O apresentador,
Rei da alegria,
Brincava e sorria,
E cada espectador,
Coadjuvante do espetáculo,
Era presenteado com uma bola de gás,
Para que ironicamente
Sorrisse com a festa
E não se lembrasse da vida.
VI

Na festa do reino encantado         
Não havia vergonha,
Não havia dor
E não havia lugar para o trabalho
E todos estariam felizes.
O reino da fantasia
Tinha alegorias incandescentes,
O ambiente transpirava éter,
E todos, inebriados pelo perfume,
Gritavam vivas
À onipotência do rei!
E, contagiados pela alegria,
Esqueceram que serão
Vassalos na eternidade.


sábado, 6 de outubro de 2018


NONATO REIS A PROFECIA DE MOACIR NEVES NA ANTEVESPERA DE 2022.
O Brasil vive mais uma acirrada disputa eleitoral. Já houve ameaça de divisão do Brasil em um Brasil do Norte e um Brasil do Sul, ameaça de debandada de brasileiros para o exterior, já houve de tudo, mais felizmente não aconteceu nenhuma coisa e nem outra.
Nonato Reis jornalista dos bons e como bom baixadeiro acredita em mandingas e nas coisas do sobrenatural. Um mundo mágico comum no comportamento do maranhense. O comendador, promotor social, guru e vidente nas horas vagas, o fantástico Moacir Neves, talvez o nosso Cabo Daciolo de antigamente ou o Bita do Barão ludovicense, teria profetizado antes de morrer, que o Maranhão teria um novo Presidente da República e desta vez, escolhido democraticamente e levado nos braços do povo ao Palácio do Planalto. Imaginou-se que o sortudo fosse o ex-presidente José Sarney. Nonato Reis mandingueiro por excelência, ficou com a pulga atrás da orelha a respeito desta premonição.
A previsão caiu no esquecimento, o Partido dos Trabalhadores chegou ao poder, Dilma se elegeu Presidente e o Partido Comunista do Brasil com mais de noventa anos de história e luta, elegeu o seu primeiro governador com amplo apoio popular e parte decididamente para uma reeleição em primeiro turno. A população do Maranhão vai dizer sim novamente ao projeto comunista de modernização do Estado. A Dilma sofreu um impeachment, o Temer assumiu a Presidência e a profecia de Moacir Neves continua no silêncio dos “mandingueiros”.
O deputado federal e ex-governador José Reinaldo cansou de falar em um pacto político pelo Maranhão mais ninguém lhe deu ouvido. O assunto se tornou tema de discussão. E o tal de pacto político nada mais seria que um desafio ao governador, um aceno de paz a Sarney, um gesto de amadurecimento político ou um aviso dos altos que 2018 estar acabando e 2022 está na nossa frente e a profecia de Moacir Neves pode se materializar mais rápido do que a vã filosofia dos incautos.
Comunista que se preza não acredita em premonições, vidências ou crendices, acredita mesmo é nas coisas mais concretas, bem ao estilo do velho e sempre atual materialismo dialético, portanto melhorar alguns indicadores sociais, melhorar a educação, saúde, infraestrutura, vender uma imagem positiva do Estado e não sujar o nome com corrupção, somente assim se pode acreditar  que a terceira via de 2018 não seja sonho de comunista e muito menos previsão mediúnica em 2022, QUE SEJA UMA REALIDADE!
Nonato é extremamente técnico, fiel ao bom jornalismo impresso e a melhor escrita do estado.  Garrone um aguerrido militante, excelente na arte da confrontação e das informações e ambos não se lembraram que Moacir Neves além de empreendedor era vidente nas horas vagas e dizem que nunca errou em suas premonições. A conversa é especulativa em uma antevéspera de 2022. Vou cobrar em 2022 a omissão ou esquecimento desta profecia aos dois grandes jornalistas do Maranhão, que coincidentemente são meus amigos.


CONVERSA DE MARANHENSE.
O maranhense sempre foi um brasileiro diferenciado, e muito bem diferenciado. Não fomos fundados por portugueses, a nossa posição geográfica é indefinida e a nossa linguagem, a nossa forma de comunicação, nos diferencia de todos os outros brasileiros.
Falar que está arreliado é o mesmo que dizer que está irritado ou desassossegado. Se esta irritação extrapolou os limites e criou-se uma confusão, costumamos chamar esta situação de cascaria e o indivíduo causador da cascaria é o casqueiro. O casqueiro é diferente do fuxiqueiro, que é aquele que faz o fuxico, o leva e trás. Fuxico é o disse me disse. E o final de todo fuxico é uma grande cascaria.
Em toda cascaria ou fuxicagem, você pode ouvir uma pérola linguística maranhense, o “eu vou te da-le”, que é o mesmo que bater em alguém. O “eu vou te da-le” é uma frase ameaçadora, é o extremo da raiva de um maranhense casqueiro, e se alguém de outro estado ouvir o “eu vou te da-le um bogue”, avise para que saia da frente que o maranhense casqueiro está com raiva.
O bogue significa esmurrar uma outra pessoa e tem o mesmo significado que o sopapo ou murro. O bogue mais terrível é o bogue no “pé do ouvido”, é terrível, um verdadeiro “pescoção”. Confesso que nunca dei um bogue em ninguém, fiquei somente na vontade, faltaram-me coragem e força física. Em uma ocasião senti vontade de dá um bogue em um colega quando disputava uma lanceada na Praça da Alegria, outra vez foi jogando bolinha e o parceiro não avisou o “casa ou bola porco leitão”. E se você não entendeu, com certeza nunca empinou papagaio ou jogou bolinha de gude.
A desaprovação de uma situação ou quando não tenha nenhum valor ou significado, ou aquilo que não presta ou que não tenha serventia, identificamos esta situação como fuleragem, tanto que o causador da fuleragem é o fuleiro, o imprestável ou irresponsável.
Pior que a fuleragem é a esculhambação, situação onde existe corrupção, malversação pública ou privada, ou descuido com a moral. O esculhambado é o grande causador da esculhambação.
Se algo quebrou ou apresentou algum defeito, tenha certeza que está escangalhado e que precisa de conserto. O maranhense não diz que um objeto está quebrado, ele diz que está escangalhado. Se este objeto for um carro e se estiver bastante usado, com certeza este carro é uma “casqueta”
A presença de alguém muito econômico, que não gosta de desperdiçar nada, alguém que nunca divide uma conta e que sempre dá uma desculpa para sair na hora da divisão da conta, este é o canhenga.
Adoeceu, sentiu algum incômodo e pede por ajuda ou por socorro, o maranhense vai dizer “me acode” e se ouvir “me vale ou valha-me”, tenha certeza que é um pedido de clemência ou da ajuda Divina para o seu sofrimento.
O hum, hum ou hém, hém são palavras afirmativas ou negativas, e o seu sentido depende do contexto de quem fala ou de quem ouve. Outras vezes não tem significado nenhum, o maranhense simplesmente ignora a conversa dizendo hum, hum ou hém, hém.
Colocar uma roupa no cabide do guarda-roupa é compreensível, entretanto o maranhense coloca a roupa na cruzeta, ele não fecha o zíper, ele fecha o ríri e ele abotoa a camisa depois de engomada.
O “piqueno ou piquena” não significa o antônimo de grande ou o tamanho das pessoas. Refere à faixa etária ou as características infantis da pessoa.Pode às vezes ter um caráter pejorativo e não sei por que alguns quando chamados de piqueno, devolve em tom raivoso que piqueno é “filho de cego”, confesso que nunca entendi esta resposta.
Não existe expressão mais maranhense que “qualhira ou qualira”. Adoramos ser identificado por qualira, talvez seja a identificação mais autêntica do maranhense, e em qualquer lugar do mundo se o maranhense ouve alguém chamando-o de qualira, ele tem a certeza que um outro maranhense está por perto. O qualira pode até ser comparável com “gay, fresco ou veado”, mas não tem caráter homofóbico. Qualira é um estado de espírito e qualhiragem ou deixar de fazer qualhiragem, é o mesmo que pedir para uma pessoa deixar de fazer besteira ou chatice, portanto se alguém lhe chamar de qualhira ou qualira, não se arrilie e nem faça cascaria, sente num mocho e descanse.
Em caso de admiração, ouve-se o “éguas”! Éguas é uma palavra exclamativa e superlativa e utilizada pelo maranhense no sentido de exagero.
O órgão genital feminino é o xiri e junto com o qualira, formam uma dupla 100% maranhense e que resiste bravamente a todos os modismos e invasões culturais, são duas identidades genuinamente maranhenses. O maranhense não vive sem xiri, sem qualhiragem e sem farinha d’água.

Hamilton Raposo


quarta-feira, 3 de outubro de 2018


PECADO ORIGINAL
Bendita sois vós entre as mulheres,
 Bendito seja o vosso santo nome.
 Bendita é quem  saciou o desejo primacial,
 Bendita seja aquela privada do desejo carnal,
 Santificado seja o vosso nome.

És santa
E como tantas outras santas,
Foste copulada por varões famintos de comida e sexo.
 Pobres mulheres,
 Perversamente comidas e abandonadas,
 Desmoralizadas em adultério permitido
 Reintegram-se em paixões adultas,
 Com o demônio sedutor ao lado,
 A exigir permissividade.

Bendito seja o vosso sacrifício
 Em conceberes em pecado
 Aquele que te possui e te abandona.
 És hipócrita e canalha,
 Quando rejeitas
 Aquela que em noites mal dormidas,
 Satisfez-te,
 Seduziu-te
 E te fez gozar...

Não te interessas,  perverso cristão,
Pelas horas de prazer que arrancaste daquela esquálida mulher,
 Que sorria,
 Enquanto tu,
 Bárbaro primitivo,
 Arrancavas, em sucções metafísicas,
 A última dose de sexo da tua vítima.

Vai, perverso,
 À procura de outros gozos
 E, quem sabe, encontres Alexandre,
 O Grande,
 Qual teu pai,
 Violento e conquistador,
 E que te faça sangrar em interminável gozo anal...
 Quem sabe ele,
 Perverso e permissivo,
 Encontre nas tuas entranhas
 Muito mais que o prazer...

Foge aterrorizado da tua satisfação anal,
Da inversa penetração
E do gozo confabulado.
Esconde-te,
Foge dos teus pares
E na espreita do desejo,
Realiza-te
E te confunde com pensamentos obsessivos.

És um tolo,
Um maldito,
Que explora corpos santos
 E prostitui sentimentos.
 És um ignorante,
 Que confunde a dualidade macho e fêmea
 E te satisfazes em desejos ambíguos.

Foge do teu pai,
Covarde, sedutor,
 Assassino do desejo,
 Que, em fúria cega,
 Feriste os olhos
 E possuíste a tua mãe.
 Não te importa mais o desejo santo,
 O que te interessa é o prazer carnal,
 O sacrifício da vida e da morte.
 Nada te restará,
 Somente a dúvida da procura infinita.
 E qual delas terá o teu desejo,
 A mãe santíssima ou a mãe puríssima?...
 Uma tu possuíste,
 À outra, restou o desejo santo da idolatria.