CARCOMIDA
Nada mais me resta,
Apenas os
restos e o fadigar do fim.
As lembranças são restos,
Restos de uma vida
Restos de uma paixão finita
Que se
perdeu com o tempo.
Restos são
restos.
Restou-me um cadáver,
Um corpo sem
alma
E um copo
vazio.
Deixaste-me
caído
Como o
bêbado em marcha trôpega
A tropeçar e
cair pela vida,
Deixaste-me
apenas.
Não me deste
nenhuma alternativa,
Lamentaste
de forma vil e cruel
O sorriso
que ainda trago
E a
perseverança da luta.
Venceste de
forma cruel
E humilhaste
a quem te deu vida,
E não te
envergonhaste
Daqueles que
caídos
Estenderam
as mãos
À procura do
nada.
Foste
passageira como um tsunami,
Arrasaste
vidas,
Emoções e
esperanças,
Deixastes
restos.
Restos para
o amanhã.
Apenas
restos,
Restos de
corpos caídos,
Ainda que pútridos,
Tiveste a
dignidade
De não
chamar os urubus,
Deixaste à
mercê do tempo,
Na
degradação lenta
E famigerada
das bactérias
E por trás
do sorriso gasoso
Causado pelo
perfume inebriante da decomposição,
Vi em teu
rosto uma lágrima
Ou talvez,
Uma gota de
chorume
De
arrependimento ou gozo.
De nojo, vomitaste na boca daquele que te deu vida,
Vômitos de restos,
Purulentos...
E causaste
náusea
Naqueles que
te seguiam,
E em
comoção,
Todos
vomitaram sobre os corpos caídos,
Todos eram
restos,
Menos as
bactérias,
Prenúncio de
vida,
E começo da
morte.
O fim
É a
tangência do começo
E oblíquo da
razão.
E
matematicamente
Desenhaste
enigmaticamente um triângulo,
Como se
fosse um losango,
E em cada
triângulo
Depositaste
um corpo,
Um homem e
uma mulher,
E admiraste a
nudez disforme da putrefação,
Como um
voyeur,
Que, de
longe,
Admira e
fantasia
A vida e a
morte.
Não tiveste
culpa,
Tu não tens
culpa,
A culpa é
resto, são restos que restaram,
Restos da
moral,
Restos da
vida,
Restos da
morte.
Cansado,
Depositei
restos de flores
Em um túmulo
vazio.
Sentei-me,
Cansado e
debruçado sobre o sepulcro;
Resta-me
apenas esperar pelos restos,
Restos
inúteis,
E enchê-lo
de nada,
Ou de apenas
sobras,
Daquilo que
não serviu
Ou daquilo
que restou.
O túmulo
estava cheio,
Cheio do nada,
Apenas
restos de cadáveres,
Que, sem
nada,
Esperam ser
preenchidos
Por novos cadáveres
Ou restos de vida.
As flores
que depositei murcharam com o tempo,
Sobraram
espinhos e talos secos,
Que, em
contemplação passiva,
Morrem e
odorizam a morte.
Ficaste
perturbada com a minha presença,
Pois a minha
visita é perturbadora
E provoca
uma revoada de urubus,
Como
gaivotas a beira-mar a procura de restos;
E
magnetizado pelo ballet beethoveniano dos urubus
E pela
correria faminta dos ratos,
Satisfiz-me
com a devoração prazerosa dos restos da morte.
Contentei-me
com o seu fim
E com a
degustação de seus restos,
Nada sobrou,
Apenas urubus, ratos e baratas.
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