terça-feira, 9 de outubro de 2018


POEMA PARA O DEMÔNIO

I

“Abram-se as cortinas,
Acendam-se as luzes,
Vai começar o maior espetáculo da Terra,
Um show de luzes e cores,
Que jamais será esquecido”.

Assim anunciava
Um vassalo anfitrião,
O mestre-de-ordem do Império
E candidato ao fracasso eterno.

II

A entrada é franca
E ninguém deve faltar
Ao magnifico show da vida.
Os déspotas,
Iluministas do engodo,
Anfitriões da mentira
E cortesãos do reino,
Estavam ali
Para dar alegria ao povo,
Ao pobre povo,
Sempre sedento
De pão,
Vida
E alegria.

III

Juntavam-se,
E a cada mentira contada,
Mais o povo se ajuntava...
Estavam felizes,
Haveria diversão
E comida.
Os enamorados,
Os ardentes de paixão,
Teriam energia sexual inesgotável,
Ninguém mais trabalhará,
Haverá de ser decretado
O estado permanente do prazer.

IV


O reino pareceria um circo,
Havia luzes em todos os lugares,
Pois os atores
Eram os malabaristas da vida,
Doutores,
Gente como a gente...
E para facilitar a entrada dos convidados,
Os cortesãos,
Bajuladores de ofício,
Mentirosos de plantão,
Alpinistas sociais
E embusteiros,
Recepcionavam os convidados
Com a falsidade
E a malícia dos famosos.

V

O grande apresentador
Do reino encantado
Vestia-se soberbamente.
No rosto maquiado,
Trazia o sorriso do convencimento
E a alegria comum dos bem-nascidos.
O apresentador,
Rei da alegria,
Brincava e sorria,
E cada espectador,
Coadjuvante do espetáculo,
Era presenteado com uma bola de gás,
Para que ironicamente
Sorrisse com a festa
E não se lembrasse da vida.
VI

Na festa do reino encantado         
Não havia vergonha,
Não havia dor
E não havia lugar para o trabalho
E todos estariam felizes.
O reino da fantasia
Tinha alegorias incandescentes,
O ambiente transpirava éter,
E todos, inebriados pelo perfume,
Gritavam vivas
À onipotência do rei!
E, contagiados pela alegria,
Esqueceram que serão
Vassalos na eternidade.


Um comentário:

Unknown disse...

Belíssimo poema, como todos da sua lavra. Denso e poeticamente muito bem construído. Parabéns pelo belo espaço.