sexta-feira, 12 de outubro de 2018


POEMA PARA DEUS

PARTE  I

O esterco estava sobre a mesa,
O banquete seria servido,
Começava o festival da decadência...
Estavam reunidos
Os famintos incongruentes,
Vorazes da devassidão,
Crustáceos do anonimato
E da escuridão absurda da alma humana.

Todos
Transvestidos em legalistas
E leguleios do passado hipócrita,
Que satisfazem na mesa
A sua fome idólatra,
Com o caos da moralidade.

Alimentam-se do seu próprio vômito,
E no pedestal do medo e da fantasia,
O ódio se fez vida
E do ódio criaste uma geração.

Assim ruminas o vento,
Que, com sussurros inaudíveis,
Lamentam a decomposição enigmática do rei.






Satisfeitos,
Os varões de moral marmórea
Estupram a verdade
E se ajoelham aos pés santíssimos,
Confessando profanamente,
A bem-aventurança da mentira.

PARTE II
A leveza do pecador
É a graça da vingança,
É a graça do humilde,
É a tua vontade em permitir,
Ao intrépido perseguidor,
Ao nefasto moralista,
Ao príncipe da desigualdade e do ódio,
Ao maligno da devassidão,
Que encontre o seu caminho
Na escuridão úmida
Das tormentas destruidoras
E das erupções ardentes,
Que queimarão a tua alma disforme,
Falsa,
Hipócrita e destruidora.

De ti nada restará,
Do pó vieste
E ao pó retornarás...
E não levarás coroa de flores
E o teu jazigo será esquecido
No anonimato dos defuntos
E na imensidão do inferno.



Foi consumada
A vingança da graça,
A vingança do humilde
E daquele que se fez oprimido.


PARTE III

Por onde tu andas,
Se deixaste sem nenhuma misericórdia
Aqueles que te deram vida,
Aqueles que te dão vida?

Por onde tu andas,
Se deixaste triunfar
O príncipe opressor,
O Senhor da Maldade,
O cristão devasso,
Incenso do ódio
E perseguidor (dos fracos) ?

Por onde tu andas,
Se deixaste morrer e sangrar
Aqueles que deveriam ir a ti,
Vítimas da intolerância
Dos que clamam pelo teu nome?

Por onde tu andas,
Se deixaste a sangria diária
Dos imperfeitos
E das Marias de todos os dias
Apunhaladas pela espada falsa do amor?

Por onde tu andas,
Se deixaste que o amor manso e pacífico
Fosse covardemente
Assassinado pela mentira e violência?

Por onde tu andas,
Se deixaste de servir a mesa,
Para florescer a devassidão da fome,
E permitiste que o carvão,
O calor insalubre
E a lama de Mariana
Estivesse à mesa?

Por onde tu andas
E por que permites
A inversão da lógica da igualdade
E da subalterna divisão do pão nosso de cada dia?
Por onde tu andas?
“Eu estou aqui”!


PARTE IV

A mão foi estendida
E a nau
Foi ancorada
Em porto seguro.

Foste salvo pela graça
Daquele que te abandonou
E que foi tolerante com o opressor.



Foste salvo pela graça
E com a bandeira de luta,
Da honra e da graça,
Venceste o inimigo invisível
E cruel.

Com a força da obra
Fizeste a tua história,
A história que podes contar
E não a que deverias contar.

E tu, escravo,
Oprimido
E miserável,
Que caminhaste entre espinhos
E descalço pisaste a lama tóxica,
Trôpego e maltrapilho,
Ganhaste a liberdade,
Rompeste a incredulidade
E te tornaste livre.

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