sábado, 15 de dezembro de 2018

CHAUFFEUR, CARRINHO DO ANJO DA GUARDA E  UBER MARANHENSE!
Coluna Imparcial 17 de dezembro de 2018
Hamilton Raposo é psiquiatra e professor universitário. hamiltonraposo@gmail.com

A vocação cosmopolita de São Luíé surpreendente. São Luíé ilha rebelde, Atenas Brasileira, Jamaica Brasileira ou simplesmente São Luís! 
São Luís nasceu com o charme francês, foi cortejada por holandeses e a musa inspiradora dos portugueses. A cidade é indiscutivelmente a mais europeia das cidades brasileiras, e se discute há algum tempo, muito antes que as outras cidades, a questão da mobilidade urbana, transporte público, tarifa única, bilhete eletrônico e concorrência pública. Até um VLT já tentaram implantar como solução de transporte público, ligando o nada a coisa alguma.
Houve um tempo, mais precisamente na década de 1960, que todas as categorias profissionais se manifestavam, se um entrava em greve, logo o outro também entrava. Eram bancários, marinheiros, comerciários, estudantes, funcionários públicos e camponeses, todos reclamavam de alguma coisa, geralmente questão de piso salarial ou liberdade democrática. 
Em São Luís havia uma categoria profissional, os choferes, que não se manifestavam e nem se deixavammanifestar. Automóveis e ônibus quase não existiam. O ônibus mais conhecido na cidade era o cara baixo” e disputava a preferência dos usuários com o bonde, principalmente para os que se dirigiam para o João Paulo, Cutim do Padre ou Anil. 
Chauffeur ou chofer em um afrancesado maranhense, era o profissional que dirigia um veiculo automotor, e como a nossa vocação sempre foi em virar Paris, assim tratávamos os nossos condutores de veículos, os motoristas atuais. 
O termo motorista, sem nenhum charme maranhense, se incorporou ao nosso palavreado através do contato com o proletariado paulista, e designa aquele que trabalha com motores. 
O chauffeur não fazia paralização e ninguém imaginava um Jacinto, Astrolábio, Vadeco, Alemãozinho, Sebastião, Paulo Veiga, Zé Espicha ou Jacu parando um Bel Air 56, Doge 51, Hudson, Studeback, Citroen ou Perfect em plena Praça João Lisboa e impedir a passagem do Bonde de São Pantaleão. Isto seria um absurdo! 
O charme francês dos nossos choferes não tinha as mesmas características dos motoristas, não eram operários e muito menos sindicalizados, eram chauffeur.  
A elegância de Jacinto, que além de chauffeur era um educador de trânsito, o fez decidir, que ao se aposentar, enveredar por aquilo que fazia de melhor: Ser Professor. O seu Jacinto, como era chamado, fazia ponto no Posto Hilmam, ao lado do Hotel Serra Negra.
Um chauffeur conduzia geralmente um carro de praça e aqui não se chamava de taxi, chamava-se carro de praça, na verdade um antecessor dos urbes ou dos carros lotação, que os paulistas adoram e imaginam que foram pioneiros neste meio de condução. 
carro de praça dos elegantes choferes virou carrinho, o conhecido meio de transporte que serve o bairro do Anjo da Guarda ao Centro da Cidade, o predecessor do uber. O carrinho do Anjo da Guarda, os motorneiros dos simpáticos e saudosos bondes e os nossos choferes, por questão de elegância, charme e independência, deveriam ser considerados patrimônio imaterial de São Luís.

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