Uma paciente, que atendo já há algum tempo, veio hoje ao meu consultório para me presentear com uma "lembrancinha" de Natal. Ela iniciou seu seguimento comigo após o falecimento inesperado do esposo. Um casamento de mais de 50 anos. Em meio a solidão e a depressão, iniciamos nossa história.
Assim, foi o nosso diálogo:
Paciente: "Oi doutor! Vim trazer esse presentinho para você".
Eu: "Nossa, quanta gentiliza! Não precisava. Fico muito feliz e agradecido".
Paciente: "Que nada. Para mim, é que é felicidade trazer para você".
Paciente: "Doutor, em relação aos nossos amados que partiram, as pessoas dizem que a 1o coisa que esquecemos deles é voz".
Eu: "Acho que não esquecemos dela. Acho que passamos ouvi-la pelo coração e não mais pelo ouvido".
Paciente: "Faz sentido".
Eu: "Você, portanto, ainda escuta a voz dele?"
Paciente: "Todos os dias doutor. Mas, confesso que sinto falta da voz dele ao meu ouvido. A voz dele me trazia segurança".
Eu: "Acredito nisso. Sem dúvidas, a voz dele, escutada ao ouvido, permitia uma maior tranquilidade. No entanto, falar dele, lembrar dele, sentir ele, perceber tudo vivido a dois com ele e continuar o legado dele poderiam representar uma forma de escutá-lo?"
Paciente: "Sim, doutor. Acredito que sim. Obrigado também pela sua "voz" sempre ativa desde a partida dele. Sua "voz" é muito importante para mim. Sua "voz" faz a diferença".
Eu: "Minha voz sempre estará contigo..."
Paciente: "Obrigada! Eu sei disso. Feliz Natal para você e sua família..."
Que nós, médicos, possamos entender a importância da nossa "voz"...
segunda-feira, 10 de dezembro de 2018
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