A BEATA DA IGREJA DA SÉ (PERSONAGENS DE SÃO LUÍS).
HAMILTON RAPOSO DE MIRANDA FILHO
Diariamente uma mulher negra, com a aparência cansada, de baixa estatura, emagrecida e sempre vestida como se fosse uma freira, amanhecia no pátio da Igreja da Sé com uma bíblia desgastada pelo tempo e pelo uso, e ali começava a falar verborragicamente e initerruptamente versículos bíblicos e palavras desconexas todos os dias, e só se retirava no final da tarde quando as portas da igreja se fechavam.
Aquela mulher era uma “beata” para uns ou louca para outros, pouco se alimentava ou ingeria algum líquido durante a sua pregação solitária. Passava o dia falando de Deus, do mundo e de qualquer coisa que florescesse em sua mente.
A jornalista Patrícia Cunha em janeiro de 2018, em uma matéria para o Jornal Imparcial, descrevia a mística da Igreja da Sé com uma aparência altiva e falante. “A beata da Sé” como a jornalista preferiu chama-la, tinha o nome de Joana Vieira Muros e uma história de vida, sacrifício, luta e devoção.
O sofrimento, a viuvez, o abandono e a incompreensão de muitos, inclusive de clérigos, aos pouco foram consumindo o pouco que restava de sua saúde mental.
Conheci a “beata” e tive a oportunidade de conversar com ela no Hospital Nina Rodrigues, acho que no final da década de 1980 ou começo de 1990, quando a elite religiosa de São Luís tentou interna-la compulsoriamente neste hospital. Pouco falamos, e após a retirada dos policiais que a levaram para o hospital, apontei para a “beata” a porta de saída do hospital, informando que ela só ficaria internada se quisesse, logicamente que do jeito que ela chegou, ela saiu.
A minha atitude contrariou o diretor do hospital que temia alguma represália judicial para mim e para ele, por desobediência a uma ato judicial, afinal era uma internação compulsória, porém injusta.
A “beata da Sé” saiu pela porta da frente do Hospital Nina Rodrigues e nunca mais voltou.
Dona Joana Vieira Muros, a “beata da Igreja da Sé”, é mais uma personagem de São Luís