CASAS, RESIDÊNCIAS, HISTÓRIA E RESISTÊNCIA.
HAMILTON RAPOSO DE MIRANDA FILHO
As construções residenciais de São Luís referentes às décadas de 1950 e 1960 representam a primeira e mais profícua transformação paisagística da cidade, uma das fases mais transformadora para o que a cidade é hoje ou pensa em ser.
Diversas residências situadas no centro de São Luís ou em bairros próximos e emergentes para época, ainda se mantêm em sua opulência e beleza, alguns desfigurados ou transformados em pontos comerciais, repartições públicas ou em estacionamentos privados. Estas construções que resistem às transformações da cidade e passam despercebidas dentro do contexto de valorização do mal cuidado centro histórico e colonial.
Na Rua de Santa Rita a residência de Heitor Franklin da Costa se enquadra neste contexto estético. O piso da garagem em cerâmica vermelha, encerado com cera de carnaúba é de uma beleza indescritível. Na Rua dos Remédios, esquina com a Rua dos Afogados, tem um dos mais belos exemplares da arquitetura maranhense, a residência do Dr. Ernane Barros, hoje uma clínica de Ortopedia. Na Rua das Hortas podemos ainda admirar o prédio da Justiça Federal em frente a Praça Odorico Mendes, a residência de Dr. Gabriel Cunha, hoje Fundação Josué Montelo e diversas outras construções da década de 1950. Na Rua do Sol, esquina com a Rua de Santa Rita, chama à atenção a antiga residência da família Francis. A Avenida Beira-Mar conserva diversas casas belíssimas e de grande valor histórico, como a residência do ex-governador Pedro Neiva de Santana e do ex-prefeito Haroldo Tavares.
Saindo do centro da cidade, no coração do Canto da Fabril, uma residência resiste ao tempo, ao abandono e ao descaso público, a residência da família de Cesar Aboud, construída em pré-moldados importados da Inglaterra. Este exemplar da arquitetura maranhense, que se encontra em ruína, resiste a pouca importância dos gestores públicos com a história. Esta casa conta a história têxtil e política do Maranhão e não entendo como se joga no lixo a história de um passado progressista. No bairro do Monte Castelo a residência de Eduardo Aboud, onde funcionou uma clínica urológica, é outra construção que merece ser vista pela beleza e importância social e histórica. A residência da família Mendonça, chamada casa das bolas, adquiridas pela família de um famoso maçom da cidade, que retratava através daquelas bolas moldadas em toda a sua fachada, os triângulos referentes a simbologia maçônica. Mais acima, no chamado bairro do Apeadouro, um conjunto de residências representam a imponência deste período, e ali ficavam as residências da família Moraes Correia, de Robert e Edna Abreu, Gentil e Noris Garrido, Carlos e Zelinda Lima, e da família de Manduca Bogéa com a famosa águia guardando a entrada da casa e de outros belos exemplares do período que fizeram a cidade mais bonita e mais feliz.
A estética da cidade não ficou restrita às construções residenciais, a cidade despertava e se expandia além do Canto da Fabril. O projeto da Avenida Kennedy e a entrega de casa populares ao longo da avenida, entre a confluência da Avenida Kennedy com a Avenida Vitorino Freire até a Praça da Bíblia, foi o marco do crescimento da cidade para a periferia. O conjunto Filipinho, projetado por uma cooperativa, mantém as mesmas características até hoje. O conjunto Aldenora Belo foi responsável pelo surgimento e crescimento dos bairros da Alemanha, Ivar Saldanha e da Avenida dos Franceses, todos resistem bravamente ao tempo e ao crescimento urbano da cidade.
São Luís resiste a tudo, sobrevive resistindo a todas as descaracterizações, desorganização, omissão e modismos, mesmo assim, permanece sendo a cidade mais bonita do Brasil!
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