sábado, 15 de fevereiro de 2025

 CHAUFFEUR, UMA HOMENAGEM AO SEU JACINTO, ASTROLÁBIO E TODOS OS CHOFERES DE SÃO LUIS (PERSONAGENS DE SÃO LUÍS)!

HAMILTON RAPOSODE MIRANDA FILHO


A vocação cosmopolita de São Luís é surpreendente. São Luís é ilha rebelde, Atenas Brasileira, Jamaica Brasileira, ilha do amor ou simplesmente, São Luís.


São Luís nasceu com o charme típico dos franceses, foi cortejada por piratas holandeses e foi a musa inspiradora dos portugueses. A cidade é indiscutivelmente a mais europeia das cidades brasileiras, ou melhor, da zona equatorial, e o que se discute há algum tempo, muito antes do que as outras cidades, é a questão da mobilidade urbana, transporte público, tarifa única, bilhete eletrônico e concorrência pública. Até um VLT já tentaram implantar como solução de transporte público, ligando o nada a coisa alguma. Agora a discussão é sobre o BLT.


Houve um tempo, mais precisamente na década de 1960, que todas as categorias profissionais se manifestavam, e se um entrava em greve, logo o outro também entrava. Eram bancários, marinheiros, motorneiros, comerciários, estudantes, funcionários públicos e camponeses, todos reclamavam de alguma coisa, geralmente se a questão era sobre o piso salarial, condição de trabalho ou liberdade democrática. 


Havia em São Luís uma categoria profissional, os choferes, que não se manifestavam por nada e nem se deixavam manifestar. Automóveis e ônibus quase não existiam. O ônibus mais conhecido na cidade era o “cara baixo” e disputava a preferência dos usuários com os bondes, principalmente para os que se dirigiam para o João Paulo, Cutim do Padre e Anil. 


Chauffeur ou chofer em um afrancesado maranhense, era o profissional que dirigia um veículo automotor, e como a nossa vocação sempre foi em virar Paris, assim tratávamos os nossos condutores de veículos, motoristas eram os que lidavam com motores, depois, com a massificação do transporte urbano, os choferes passaram a ser chamados de motorista. 


O termo motorista, sem nenhum charme maranhense, foi incorporado ao nosso palavreado através do contato com o proletariado paulista, substituindo o chauffeur por motorista.


O chauffeur não fazia paralização e ninguém imaginava um Jacinto, Astrolábio, Vadeco, Alemãozinho, Sebastião, Paulo Veiga, Zé Espicha ou Jacu parando um Bel Air 56, Dodge 51, Hudson, Studeback, Citroen ou Perfect em plena Praça João Lisboa e impedir a passagem do Bonde de São Pantaleão. Isto seria um absurdo. 


O charme francês dos nossos choferes não tinha as mesmas características dos motoristas, não eram operários e muito menos sindicalizados, eram chauffeur.  


A elegância do seu Jacinto, que além de chauffeur, era um educador de trânsito, e assim o fez, ao se aposentar, enveredar por aquilo que fazia de melhor: Ser Professor. O seu Jacinto, como era chamado, sempre de terno de linho branco, fazia ponto no Posto Hilmam, ao lado do antigo Hotel Serra Negra.


Um chauffeur conduzia geralmente um carro de praça e em São Luís não se chamava de taxi, chamava-se de carro de praça, na verdade um antecessor dos urbes ou dos carros lotação, que os paulistas adoram e imaginam que foram eles os pioneiros deste meio de condução. 


O “carro de praça” dos elegantes choferes virou com a explosão demográfica, o popular “carrinho”, o conhecido meio de transporte que serve principalmente o bairro do Anjo da Guarda ao Centro da Cidade. O “carrinho” do Anjo da Guarda, os motorneiros dos simpáticos e saudosos bondes e os nossos choferes, por questão de elegância, charme e independência, deveriam ser considerados patrimônio imaterial de São Luís.

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