PREPARAÇÃO PARA O EXAME DE ADMISSÃO (do livro Crônicas das minhas memórias).
HHamilton Raposo Miranda Filho
Em 1969 os meus pais decidiram que eu deveria estudar na mais tradicional escola do Maranhão, o Liceu Maranhense. Assim tive que deixar o Colégio Zoé Cerveira, uma escola menor, onde fiz uma parte do ginásio. O Zoé Cerveira era de propriedade de uma família de intelectuais e de renomados professores, a família Nascimento de Moraes. Ali fui aluno de grandes mestres, como o professor e intelectual Paulo Nascimento de Moraes, um dos maiores conhecedores da geopolítica israelense e do mundo árabe; Raimundo Nascimento de Moraes, excelente matemático, que, com sua formidável didática, fazia com que os alunos se apaixonassem por equações, contas e números; dona Nadir, era um caso a parte: rígida e extremamente disciplinadora, ensinava Geografia e o com seu vozeirão nos fazia conhecer o mundo; e por fim o imortal poeta, um dos primeiros ambientalistas brasileiros e esquerdistas de carteirinha, Nascimento de Moraes Filho, que fazia da sala de aula uma reunião da academia de letras, recitava poemas e ensinava Português, por meio de obras de inestimável valor literário. A eles sou eternamente grato.
Por causa deles adquiri uma certa base escolar, mas precisava de um reforço para enfrentar o dificílimo exame de admissão do Liceu Maranhense, espécie de vestibular para o colegial; no meu caso para a 4ª série do ginásio. Eram cinquenta vagas para mais de mil inscritos. Tinha necessidade de conhecimento adicional, sobretudo, nas disciplinas de Português e Matemática. Coube às professoras Ceci Mota e Maria da Graça Jorge, todas renomadíssimas, a tarefa de me ensinarem todos os macetes de Matemática e Português, respectivamente, para enfrentar o exame de admissão do Liceu Maranhense.
As aulas de Matemática da professora Ceci Mota, eram ministradas na sala de jantar de sua residência, uma casa muito simpática, situada na Rua do Pespontão. A professora Ceci Mota tinha um irmão que divertia a todos os alunos com sua malandragem e picardia, um boêmio e contador de histórias e de estórias. Conheci-o pelo apelido de “Maneta”. Ele dava o seu show à parte, antes de iniciar a aula preparatória, que acontecia duas vezes por semana, às terças e quintas-feiras, pela manhã.
As aulas de Português da professora Maria da Graça Jorge, uma renomada professora maranhense e reconhecida pela disciplina e saber linguístico, eram ministradas também em sua residência, uma bela casa de dois andares, situada no Caminho da Boiada. Neste imóvel havia um pequeno cômodo adaptado para sala de aula, com carteiras e um quadro verde, diferente dos quadros negros do Colégio Zoé Cerveira. As aulas, muito rígidas e disciplinadas, aconteciam também duas vezes por semana, no período vespertino.
Chegou o dia do tão esperado exame de admissão, eu me sentia preparadíssimo para as provas da seleção. Fui até o local das provas acompanhado da minha mãe, dona Helena, que não deixaria jamais o seu filho, conhecido pela sua hiperatividade, ir sozinho se submeter a tão importante exame para o mais tradicional colégio do Maranhão.
Fiz a seleção em janeiro, e quinze dias depois, na véspera de um carnaval, saiu o tão esperado resultado. Era enfim um liceista, tinha sido aprovado com louvor para o Liceu Maranhense.
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