HISTÓRIAS DE SÃO LUÍS
AOS AMIGOS QUE SE EMBRIAGARAM COM RUM MONTILA NAS MATINAIS DO LITERO
A minha adolescência se passou em uma São Luís tranquila com
pouco mais de 300 mil habitantes. A efervescência cultural e social
restringia-se pelas tardes e noites esportivas do Clube Recreativo Jaguarema ou
do Grêmio Litero Recreativo Português. Nos períodos de férias funcionava uma
boate sempre aos finais de semanas nestes clubes e todos os namoros da minha
geração começavam e terminavam no Litero ou no Jaguarema.
Durante o período escolar a cidade adormecia as 22 horas após
Saramandaia, Ossos do Barão ou após as peripécias políticas e sexuais do
prefeito Odorico Paraguaçu na novela o Bem-Amado. Frequentávamos obrigatoriamente
nos finais de tarde a Rua Grande, o nosso shopping center da época, e nas
manhãs tínhamos a nossa obrigação em frequentar o Marista, Liceu, Escola
Normal, Rosa Castro, Santa Teresa, Atheneu, São Luís, São Vicente, Cardoso
Amorim, Escola Técnica ou Centro Caixeral, as escolas que existiam ou de maior
tradição.
A rotina da cidade começou a se perturbar quando alguns
automóveis com descarga aberta ou sem abafador começaram a circular pelas ruas
sem engarrafamento, sem semáforos ou qualquer tipo de fiscalização, surgia o “playboy”
maranhense. Sempre arrumado e com cheiro de Vitess, o “playboy” maranhense
fazia sucesso entre as garotas, principalmente as garotas do Colégio Santa Teresa.
Alguns setores sociais
começavam a organizar festas e surgem na década de 1970 as primeiras boates
fora do contexto juvenil clubista. Diversas turmas se formaram como a turma do
muro, turma da Rua das Hortas e figuras sociais marcantes como Sérgio Costa,
Garrido, Pedro Henrique, Gilman, Sérgio Santos, Paulo Juca Chaves, Zé Peru,
Nazaré, José Aniesse, Zé Nilson, Tampinha, Perereca, Xerebreu, Silvinho boca de
bilha e tantos outros que agitaram a vida social da cidade e marcaram uma época
lúdica e inocente de São Luís. As turmas ou grupos sociais comandavam a farra e
os principais acontecimentos sociais, e foi com eles que surgiram todos os
modismos que seriam seguidos e incorporados pela provinciana sociedade. As
garotas da época? Estas ficarão para uma outra história.
A cidade se guardava e se preparava para o carnaval, e todos
se pervertiam na matinais pré-carnavalescas do Grêmio Litero Recreativo
Português e nas festas noturnas de sábado e segunda-feira de carnaval do Clube
Recreativo Jaguarema. Lembram-se de que todos os namoros começavam no
Jaguarema? E todos os namoros indubitavelmente acabavam nas matinais
pré-carnavalesca do Litero. Nenhum namoro “mais sério” resistia as matinais do Litero
e a explosão sonora de Nonato e seu conjunto ou dos Fantoches.
As festas do Litero e do Jaguarema tinham o cheiro de lança-perfume
e o gosto de Rum Montilha com Coca-Cola. Não havia mais confete e serpentina,
começava a onda de Maisena. A juventude de São Luís começava a dar sinais de
rebeldia e a inocência típica das cidades provincianas se perdia com o
crescimento urbano da cidade.
Foi o fim da festa, fim de uma época e de um sonho. São Luís
tinha mudado!
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