sábado, 2 de novembro de 2024

 

FAÍSCA, O HERÓI MARGINAL DA DÉCADA DE 1960.

 

 

Conheci Faísca nos arredores da Praça da Alegria. Faísca morava na casa do seu avô, o seu Joaquim, um ourives respeitado que tinha a sua oficina de consertos de relógios, cordões e pulseiras de ouro, na sua própria residência, na Rua de Santa Rita, era vizinho dos meus pais.

Faísca era um jovem neuro-atípico, um prejudicado intelectualmente e que, por conta das suas limitações, principalmente do juízo crítico, aprontava em quase toda a cidade, que na época se estendia até o canto da Fabril.

O nosso personagem tinha um comportamento pueril e algumas vezes manifestava um comportamento ameaçador ou amedrontador. Faísca era um exímio cleptomaníaco e não sabia distinguir o que tinha valor, daquilo que simplesmente não tinha valor nenhum. Não tinha o menor receio de mexer nas coisas do alheio e por conta desse comportamento, Faísca trazia em seu rosto marcas de agressões praticados por algumas das suas vítimas. Era inofensivo, mas, para época, um elemento de “alta periculosidade.”

Faísca gostava e abusava de uns “tragos”, principalmente de cachaça e do velho traçado, uma bizarra mistura de cachaça com Cinzano, e embriagado, mais amedrontador se tornava e mais preocupação causava para o seu Joaquim. Não foram poucas as visitas da “Maria Chiquita”, como se chamava o atual camburão, com a presença onipresente e elegante em seu terno de linho branco do delegado   Pedro Santos, Titular do 1º Distrito Policial, local conhecidíssimo por Faísca. O 1º DP ficava estrategicamente na Rua da Palma no coração da zona do baixo-meretrício e depois de alguns dias de reclusão, Faísca aprontava em alguns dos bordeis e se escondia no Beco Feliz no temido bairro do Desterro.

Era o larápio oficial da cidade, que de tantas confusões, cachaça e do velho traçado, envelheceu e adoeceu. Sem o acolhimento do seu avô, o bondoso e competente ourives, que já havia entregado a moeda para o barqueiro, Faísca estava sozinho, desamparado e sem ninguém para resolver os seus desatinos. E como Deus existe, surgiu na vida do nosso herói marginal, um anjo chamado de Dr. Celso Coutinho, que acolheu e recuperou o “irrecuperável” Faísca, com muito trabalho e confiança, até o último dia de sua vida.

Faísca morreu honesto e faz parte como um dos meus personagens da história de São Luís.

HAMILTON RAPOSO DE MIRANDA FILHO.

 

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