FAÍSCA, O HERÓI MARGINAL DA DÉCADA DE
1960.
Conheci Faísca nos arredores da Praça da Alegria. Faísca
morava na casa do seu avô, o seu Joaquim, um ourives respeitado que tinha a sua
oficina de consertos de relógios, cordões e pulseiras de ouro, na sua própria
residência, na Rua de Santa Rita, era vizinho dos meus pais.
Faísca era um jovem neuro-atípico, um prejudicado
intelectualmente e que, por conta das suas limitações, principalmente do juízo
crítico, aprontava em quase toda a cidade, que na época se estendia até o canto
da Fabril.
O nosso personagem tinha um comportamento pueril e algumas
vezes manifestava um comportamento ameaçador ou amedrontador. Faísca era um
exímio cleptomaníaco e não sabia distinguir o que tinha valor, daquilo que
simplesmente não tinha valor nenhum. Não tinha o menor receio de mexer nas
coisas do alheio e por conta desse comportamento, Faísca trazia em seu rosto
marcas de agressões praticados por algumas das suas vítimas. Era inofensivo,
mas, para época, um elemento de “alta periculosidade.”
Faísca gostava e abusava de uns “tragos”, principalmente de
cachaça e do velho traçado, uma bizarra mistura de cachaça com Cinzano, e
embriagado, mais amedrontador se tornava e mais preocupação causava para o seu
Joaquim. Não foram poucas as visitas da “Maria Chiquita”, como se chamava o
atual camburão, com a presença onipresente e elegante em seu terno de linho
branco do delegado Pedro Santos, Titular do 1º Distrito Policial,
local conhecidíssimo por Faísca. O 1º DP ficava estrategicamente na Rua da Palma
no coração da zona do baixo-meretrício e depois de alguns dias de reclusão,
Faísca aprontava em alguns dos bordeis e se escondia no Beco Feliz no temido
bairro do Desterro.
Era o larápio oficial da cidade, que de tantas confusões,
cachaça e do velho traçado, envelheceu e adoeceu. Sem o acolhimento do seu avô,
o bondoso e competente ourives, que já havia entregado a moeda para o
barqueiro, Faísca estava sozinho, desamparado e sem ninguém para resolver os
seus desatinos. E como Deus existe, surgiu na vida do nosso herói marginal, um
anjo chamado de Dr. Celso Coutinho, que acolheu e recuperou o “irrecuperável”
Faísca, com muito trabalho e confiança, até o último dia de sua vida.
Faísca morreu honesto e faz parte como um dos meus
personagens da história de São Luís.
HAMILTON RAPOSO DE MIRANDA FILHO.
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