KATÁ, O TERROR DE SÃO LUÍS NO INÍCIO
DA DÉCADA DA 1970.
No final da década de
1960 a pacata São Luís foi surpreendida por um brutal crime de homicídio. Um
homem, morador nas imediações da Rua do Norte, chegando à Praça da Saudade,
havia assassinado com vários golpes de faca a sua própria esposa, que segundo
informações da época, estaria grávida e após o transloucado ato, o homem teria
atentado contra a sua própria vida, sendo levado ao Hospital do Pronto Socorro
e sobrevivido. Desde esta época havia dúvida sobre a sanidade mental deste
homem.
E quem era este homem, que com tamanha crueldade, foi capaz
de assassinar a sua esposa, que estava grávida de seu próprio filho, sem nenhum
motivo que justificasse este ato de tamanha violência?
Esta pessoa tinha as iniciais de O.N.G.F, conhecido nos
bairros de São Pantaleão, Madre-Deus e adjacências pela alcunha de Katá. Ele
morava na Rua do Norte, em frente à Praça da Saudade, afirmava ter a profissão
de marceneiro e havia servido o Exército Brasileiro, nº 912 e vivia
perambulando pela Rua do Norte, Praça da Saudade e Rua de São Pantaleão. Tinha
um porte físico tipo atlético e era um contumaz usuário de maconha e
constantemente envolvia-se em confusões, tinha um comportamento agressivo e
desafiador.
Katá costumava-se vestir-se com roupas femininas e assim
caminhava pelas ruas da cidade geralmente armado com uma faca tipo “peixeira”
escondida por baixo da roupa e quando provocado, por estar usando roupas
femininas, reagia sempre de forma ameaçadora.
Foi preso por diversas vezes e desde a época do brutal
assassinato, o advogado contratado pela família para a sua defesa, Dr. José de
Jesus Jansen Pereira, alegava que o seu constituinte era inimputável e deveria
ser transferido para o Hospital Nina Rodrigues.
Conheci Katá na década de 1970 quando estudava no Liceu
Maranhense e confesso que morria de medo ao vê-lo falando sozinho, com trajes
inadequados ou insultando as pessoas. Posteriormente, o conheci pessoalmente, e
conversei com ele por diversas vezes quando estagiava no Hospital Nina
Rodrigues sob a supervisão da extraordinária professora e psiquiatra, Dra.
Maria Olímpia Carneiro Mochel.
O.N.G.F, o Katá, possuía diversas internações no Hospital
Nina Rodrigues. A primeira internação aconteceu no período de 06/08/1965 a
31/09/1965 e a última internação em 14/02/1982, quando foi preso no bairro do
Desterro portando diversos cartuchos de maconha. Em todas as internações de
Katá, todas em caráter compulsória, ele se evadia, pouquíssimas vezes recebeu
alta melhorada. Uma dado me chamou atenção, era que Katá mesmo submetido a
todas as terapias existentes na época, aí se inclui o eletrochoque, Katá não
apresentava melhora do ponto de vista de conviver em sociedade, talvez o
consumo exagerado de maconha tenha agravado o seu espado psicopatológico.
Na análise da documentação que tenho em posse, Katá tinha no
prontuário o diagnóstico de “Personalidade Psicopática”, sendo assim,
juridicamente semi-imputável.
No dia 03/05/1971 O.N.G.F, o Katá, foi submetido a uma nova
perícia a pedido do seu advogado e realizado pelo médico psiquiatra e professor,
Dr. Beethovem Matos Chagas, que o diagnosticou como portador de “Esquizofrenia
Paranoide”, sendo assim, inimputável, livre de qualquer tipo de condenação.
Após a perícia e já de alta médica e com recomendação de
manter o tratamento no ambulatório do Hospital Nina Rodrigues, Katá permaneceu
agressivo, resistente ao tratamento e extremamente ameaçador, embora não
tivesse mais cometido nenhum crime de homicídio, permaneceu consumindo maconha
e foi preso diversas vezes.
A sua última internação aconteceu no dia 14/2/1982, sempre de
forma compulsória e nesta época, Katá não tinha mais os pais e nenhum parente
que pudesse ou tivesse coragem em acolhe-lo, vivia pelas ruas e assentava-se no
bairro do Desterro, conhecido pelas inúmeras “boca de fumo”.
No dia 25/05/1982, eu, médico recém-formado e ainda na
especialização em Psiquiatria, com interesse na Psiquiatria Forense, por
influência do estimado professor e o mais renovado psiquiatra forense do
Brasil, Prof. Dr. Talvane Marins Moraes, recebi no estado do Rio de Janeiro,
uma intimação assinada pelo MM Juiz de Direito, Dr. Sebastião Leopoldo M. de
Campos, Titular da 6ª Vara Criminal da Capital, convocando-me para ser perito
oficial no exame de sanidade mental em O.N.G.F, o Katá.
Em julho, durante meu período de férias do curso de
especialização, iniciei o exame mental em Katá, que já estava bastante
alquebrado e com sinais de sintomas psicóticos. Katá não esperou a conclusão do
exame e evadiu-se do Hospital Nina Rodrigues, algum tempo depois, doente e com
sequelas de um AVC, Katá veio a óbito em sua residência.
Assim foi a história de Katá, mais um personagem da cidade de
São Luís. Uma triste história!
HAMILTON RAPOSO DE MIRANDA FILHO
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