domingo, 12 de outubro de 2025

 

CHICO COIMBRA, O MAGO DA MODA, CARNAVAL E FUTEBOL (do livro personagens da cidade).

Hamilton Raposo de Miranda Filho.

Outubro quase terminando e carnaval chegando, o flagelo da pandemia pelo coronavírus passou, como passa o carnaval, entretanto, se pretendo falar de carnaval, vale lembrar de alguns personagens que fizeram história no carnaval e na vida social de São Luís.

Há alguns anos, li em uma das redes sociais, um comentário do ator e diretor de teatro Cesar Boaes sobre Chico Coimbra. O estilista e carnavalesco que modificou o carnaval, o comportamento, a moda e a vida social de São Luís.

É imaginável se pensar que as calças tinham nomes e formas, e pouco importava a marca, situação bem diferente dos dias atuais. As calças tinham nomes e se deixassem, tinham sobrenome, como a calça boca de sino, pantalona, Saint Tropez e a desajeitada calça tipo toureiro. As calças vestiam e caracterizavam a tendência e poucos se importavam ou tinham noção de crítica do que vestiam. Tudo era muito esquisito. Às vezes, chego a me perguntar de como vestir aquilo?

Os sapatos? Vale ressaltar e recordar o motinha, a bota preconizada pelo programa jovem guarda, o sapato com salto carrapeta e os sapatos bicolores, que ainda resistem em muitos dançarinos das famosas serestas de São Luís. Tudo muito estranho. Tênis Adidas, Nike, Mizuno nada disso existia e se quiséssemos um tênis, teríamos de recorrer ao Conga, Kichute ou Bamba. Quem tinha algum problema de altura apelava para o sapato de salto carrapeta e ganhava alguns centímetros na altura. Aqueles que eram mais estilosos desfilavam com um motinha ou com uma bota estilo Roberto Carlos, a famosa bota calhambeque, marca registrada dos produtos de Roberto Carlos, e quem gostava de festa usava o esquisitíssimo sapato bicolor.

As camisas ballon, volta ao mundo e as terríveis camisas de seda combinavam com o look para a ocasião, porém, nada se igualava em esquisitice ao terno de xadrez usado pelos executivos ou as calças de listas tipo pantalona.

Tenho uma foto do meu primo Franklin Filho vestido com uma dessas calças e uma camisa curtíssima na porta do seu corcel 1976. Vale o registro desse carro que sobreviveu a todas as farras possíveis e impossíveis sem nunca ter feito uma revisão. O carro obedecia até comando de voz e rodava somente com o cheiro do Rum Montila.

A moda em São Luís só ganhou estilo próprio com a chegada do colunismo social como pauta de maior importância nos jornais da cidade. A sociedade emergente necessitava de alguém com talento suficiente para desenhar e assinar a nova moda da cidade. E a pessoa com talento suficiente e capaz de criar um estilo ludovicense de se vestir, foi o meu amigo e vizinho da Praça da Alegria, Chico Coimbra. A importância de Chico Coimbra ainda não pode ser dimensionada, tudo que se refere a estilo, bom gosto, criação, carnaval e futebol passou pala mãos talentosas de Chico. Torcedor fanático da Bolívia Querida, Chico Coimbra assinou a equipagem mais bonita do Sampaio Correia, a pedido do então presidente do Sampaio Correa, Dr. Nonato Cassas. Nesta época a Bolívia Querida disputou o campeonato brasileiro da séria A e a equipagem do time fez mais sucesso do que a participação do clube no campeonato.

Viva Chico Coimbra, um dos maiores maranhense do século XX!

 

domingo, 14 de setembro de 2025

 

PENINSULA OU PONTA D’ AREIA, A OUSADIA DE FELIPE CAMARÃO E A RESISTÊNCIA DO REGGAE.

HAMILTON RAPOSO DE MIRANDA FILHO (do livro Lembranças das Minha Memórias)

A Ponta d’ Areia virou a “península” e se transformou. A bucólica e inexplorável praia, alcançada somente pela lenta e barulhenta lancha de “chocolate”, perdeu seus pés de murici, canapu ou bombom do mato e ganhou edifícios ares de modernidade e problemas.

São Luís apesar da sua vocação em virar Paris, se contentava com o bucolismo do centro histórico e com as aventuras na lancha de “chocolate” em direção à Praia da Ponta d’ Areia. Ninguém se preocupava com mobilidade urbana, VLT e BRT tudo parecia assuntos de ficção científica, o que preocupava mesmo o maranhense era as oscilações das marés, maré cheia ou maré baixa, condições essenciais para uma viagem tranquila da Praia do Caju até a Ponta d’Areia.

Havia na cidade alguns que rejeitavam o transporte pela lancha, preferiam fazer o trajeto da baia de São Marcos a nado. Arriscavam a vida e disputavam com a lancha de chocolate quem chegava primeiro na praia, e dentre estes, Felipe Camarão, pioneiro da natação em mar aberto de longa e curta distância no Maranhão.

A construção da Ponte do São Francisco tirou o romantismo da travessia e transformou a Ponta d’Areia em “península”. As dunas e a vegetação nativa deram lugar a prédios e condomínios e o ponto de “areia movediça”, lugar que “engolia as pessoas”, considerado o lugar mais perigoso de São Luís, se transformou em espigão. A ponte de São Francisco trouxe uma novidade para os boêmios, estudantes, solteiros desocupados e notívagos, a Peixaria Carajás, que servia uma suculenta e gordurosa peixada, ornamentada com um ovo cozido em cada prato, refeição que curava ressaca e recuperava qualquer gasto energético noturno que resistiu bravamente por décadas, alimentando corpos e almas.

A ponte diminui o risco da travessia e facilitou o acesso ao bairro do São Francisco.  A sensação de aventura havia acabado. A urbanização acabou com os pés de murici e de bombom do mato. A praia estava acessível. Os bares tomaram conta da praia e uma turma que jogava futebol e vôlei, começava a se reunir aos sábados e domingos e dessa turma vale lembrar de Sérgio Cão, Ribinha, André, Riba Simões, Danilo Brito Passos, Clineu Coelho, Afonsinho, Nélio Tavares, Tininho, Catel, Reges Sales, Fernando Lameiras, Chicó e muitos outros que continuam fazendo festa e farra em outros lugares, inclusive no céu.

O segundo momento histórico e importante de ocupação da Ponta d’ Areia foi a chegada da batida compassada dos clubes de reggae. A Ponta d’ Areia resistia em se transformar em Península através do reggae e democraticamente dizia não a qualquer investida capitalista no lugar, afinal de contas a Ponta d’ Areia era do povo. O reggae se tornou um negócio e o bairro virou a Península, assimilando todas as tribos, inclusive o reggae, que continua resistindo mesmo que timidamente, mais informando sempre, que “a praia é de todos, como o céu é do avião”.

domingo, 24 de agosto de 2025

 UMA HOMENAGEM A MINHA CIDADE QUE COMPLETA 2013 ANOS.

Hamilton Raposo de Miranda Filho.

Há algum tempo venho insistindo na vocação de São Luís em virar metrópole, sairíamos da mesmice de uma cidade comum e viraríamos uma metrópole com os mais altos de IDH. Sempre fomos bombardeados por notícias sudestinas ou por crias tupiniquins que não condizem com a cidade ou com o estado. Alguns que nunca passaram por aqui, tiveram a ousadia de nos comparar com o Afeganistão, um país que viveu uma sangrenta e desigual guerra, foi invadido, dominado por fundamentalistas e com a garra do seu povo vai se reconstruindo. O infeliz que fez esta esdrúxula comparação não conhece o estado e muito menos aquele país. Felizmente os dois povos têm orgulho de suas origens e das diversidades das suas culturas.

Por questões de política provinciana, alguns, procuram encontrar defeito em tudo, como se São Luís fosse a pior cidade do mundo e o Maranhão o pior estado do mundo. Nenhum um e nem outro. O fato é que a autoestima do maranhense e do ludovicense que tinha ido embora, ressurgiu como a fênix, uma ave fabulosa, que após viver mais de 300 anos em um braseiro, renasce das próprias cinzas, como um ser especial, superior e dotado de grandes qualidades. Aquele mantra da política arcaica de “quanto pior melhor”, acabou e não somos mais a sarjeta do Brasil.

Eu amo o Maranhão e tenho orgulho de ser maranhense. Eu amo São Luís e tenho orgulho de ser ludovicense. Nasce assim, a revanche do Maranhão, dos maranhenses e dos ludovicenses.

Eu tenho como conterrâneos poetas e escritores como Gonçalves Dias, Artur Azevedo, Aluísio Azevedo, Catulo da Paixão Cearense, Américo Azevedo Neto, José Chagas, Carlos Cunha, Nascimento de Moraes, Coelho Neto, Graça Aranha, Bandeira Tribuzi, Luís Augusto Cassas, Chagas Val, Carlos Cunha, Arlete Nogueira da Cruz, Helena Barros Heluy, Ferreira Gullar, Nauro Machado e tantos outros que nos orgulham de ser maranhense e ludovicense. Bastava isto para sentir orgulho da minha maranhensidade. Entretanto, quase que por acaso, aqui nesta cidade, em São Luís, apesar de alguns dizerem ser Coroatá, nasceu a mulher mais influente da política maranhense e nacional do século XVIII, feminista e sem medo de enfrentar a elite machista da época, foi a primeira política a ter sua imagem destruída e desconstruída por seus adversários políticos. Dona Ana Jansen ficou na lembrança e na história e os seus adversários se foram e ninguém sabe quem os são. Dona Ana Jansen até hoje é lembrada e homenageada. Sou conterrâneo de Maria Firmina dos Reis a primeira escritora do Brasil. Sou conterrâneo de Dilu Melo cantora e musicista com projeção nacional. Sou conterrâneo de Apolônia Pinto a primeira dama do teatro brasileiro.

Qualquer povo sentiria orgulho de tantos DNAs famosos e com inteligência privilegiada e que diriam humildemente chega - não vamos constranger as outras capitais, somente estes satisfazem o meu orgulho de ser maranhense e ludovicense, mas o maranhense pensa diferente, afinal de contas não somos um povo qualquer, somos maranhenses e queremos muito mais. Por isso então, é que sou conterrâneo de Odilo Costa Filho, João Lisboa, Josué Montelo, Odorico Mendes, Candido Mendes, Gomes de Sousa, José Louzeiro, Franklin de Oliveira, Nonato Masson, João Lisboa, Bandeira Tribuzi, Joaquim Itapary, Nonato e Benedito Buzar. Sou conterrâneo de Urbano Santos, Satu Belo, Borjana Lobão, José Sarney, Cafeteira, Joãozinho Trinta, Chico Coimbra, Tampinha, Clodomir Milet, Paulo Ramos, Salomão Fiquene, Jackson Lago, Benedito Leite, Lago Burnet e Flávio Dino, Nego Cosme....

São políticos, escritores, artistas, juristas, médicos, matemáticos, cientistas, jornalistas, homens e mulheres que fizeram a história do Brasil e do mundo.

Tenho orgulho de falar que sou da terra de João do Vale, Patativa, Dona Teté, Antônio Vieira, Zeca Baleiro, Alcione, Tribo de Jah, Papete, Turíbio Santos, Sinhô, Ubiratan Sousa, Bicho Terra, Boi Barrica, Mano Borges, Sérgio Habibe, Ubiratan Sousa, Chico Saldanha, Cesar Teixeira, Cristóvão Alô Brasil, Bulcão, Godão, Gabriel Melonio, Josias Sobrinho, Flávia Bittencourt, Rita Benedito, Joãozinho e outros, outras, outros e outras...

Sou Bolívia Querida, sou da terra do único time tricampeão brasileiro em três séries diferentes. O único bicampeão brasileiro invicto, o Sampaio Correia Futebol Clube. Sou da terra de Iziane, Kleber Pereira, Ana Paula, China, Tião, Phil, Djalma, João Bala, Canhoteiro, Juca Baleia, Arlindo Maracanã. Pimentinha e outros, outras e outros...

Sou guerreiro, lutei contra franceses e holandeses e coloquei os patrícios no seu devido lugar.

Bastaria que eu cantasse “Maranhão berço de heróis” ou “Chiador abalou Maioba, chão tremeu quem fez foi Maracanã”, ou então “Maranhão meu tesouro, meu torrão, fiz esta toada pra ti maranhão...” somente isto me encheria de orgulho da minha terra. Entretanto eu gosto de dizer que sou “sou Maioba, Maracanã, Madre Deus, Morros, Axixá, Pindaré, Floresta, o sotaque que seja, sou cantador”. Sou Turma do Quinto, Favela, Flor do Samba, Bicho Terra, Foliões...” Sou Maranhense e ludovicense com muito orgulho!

PARABÉNS SÃO LUIS PELO DIA 08 DE SETEMBRO, ANIVERSÁRIO DA ILHA REBELDE, ATENAS BRASILEIRA, JAMAICA BRASILEIRA, ILHA DO AMOR E A CIDADE MAIS BONITA DO BRASIL!

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

 FORMAS DE INTERVENÇÃO DE BAIXO CUSTO PARA PREVENÇÃO E TRATAMENTO NOS CASOS DE USO E ABUSO SE SUBSTÂNCIA.

Hamilton Raposo Miranda Filho

Sempre demonstrei a minha preocupação com a forma de atendimento das instituições públicas e das comunidades terapêuticas aos usuários e dependentes químicos e a ausência quase que total com a prevenção.


O que vale tratar e o que vale prevenir?


Nenhum país conseguiu acabar com o consumo de drogas e muito menos com o tráfico de drogas, quase todos voltados para a internação ou para a repreensão armada e violenta. Aqueles que tiveram algum tipo de êxito no controle e redução do uso e do comércio ilegal, o fizeram através de investimento na educação, legalização e discriminalização , basta conhecer a realidade desses países e comprovar esta afirmativa.


A história do consumo de drogas, didaticamente, se faz por etapas, e assim tivemos: 

1a etapa: O homem inicialmente usava drogas por questões de sobrevivência, necessitava de uma força ou coragem para enfrentar as adversidades que existiam naquele período;

2a etapa: O homem procura no consumo de drogas o encontro com o divino, o encontro ou a proximidade com Deus, e porquanto, teria sido a igreja, a primeira instituição a combater ou demonizar o uso de drogas. Para a igreja, seria impossível este encontro transcendental, sem a interferência da igreja.A partir desta época é criada a teoria dos degenerados, que estigmatizada em definitivo o dependente químico e os doentes mentais, passando este tema a ter uma concepção extremamente moralista.

3a etapa: Acontece com o surgimento do processo industrial e da modernização das práticas comerciais. O consumo de drogas se expande e adquire uma concepção terapêutica, diversas drogas entram ou passam a serem usadas no tratamento de diversas doenças ou sofrimentos. Posteriormente, o consumo de drogas adquire a forma lúdica, passa a ser usada de forma social ou recreativa, o homem encontra na droga o prazer para as suas adversidades.

4a etapa: Após a segunda grande guerra, o mundo passa por grandes transformações sociais, políticas e econômicas. O mercado se expande, a indústria farmacêutica se desenvolve e surge as principais drogas recreativas.Nenhum país do mundo foi capaz de conter o avanço ou o comércio ilegal de drogas. A partir da década de 1970 aumentou o consumo de drogas no mundo e todos os países iniciaram uma política repressiva, voltada exclusivamente para a violência, fato este que demonstrou ser ineficiente, e permanece ineficiente, como é ineficiente a prevenção e o tratamento.


A pergunta que segue, se é possível viver em uma sociedade sem drogas?


E baseado nesta pergunta é que propomos práticas de intervenções nos três níveis de atenção da saúde:

1- Intervenção primária:

1.1- Foco da atenção é no experimentador ou no usuário ocasional

1.2- Objetivo: Retardar o início de experimentação de qualquer droga (lícita ou ilícita) ou eliminar o uso inicial ou ocasional.

1.3- A conduta de suporte será sempre socioeducativa.

1.4- Local de atenção ou de intervenção deve ser na escola, no trabalho ou no seio familiar.


2- Intervenção secundária:

2.1- Foco da atenção é para o usuário habitual

2.2- Objetivo: Eliminar o uso ou reduzir o consumo, ou evitar a progressão para o uso mais frequente e prejudicial.

2.3- A conduta de suporte é socioeducativa, psicológica e / ou médica caso seja necessário algum suporte terapêutico.

2.4- Local da intervenção deve ser na escola, meio-social onde o usuário se encontra ou locais em que frequenta, ou centros especializados.


3- Intervenção terciária:

3.1- Foco de atenção é para o usuário abusivo ou dependente.

3.2- Objetivo: Tentar a abstinência ou a redução do uso (frequência e quantidade) e diminuição dos efeitos da droga.

3.3- A conduta será sempre reabilitadora, portanto multiprofissional,  médica, psicológica, terapêutica ocupacional e social.

3.4- Local da intervenção: Na família, empresa, escola e centro especializados.

“ Se não for possível interromper o uso de drogas, que ao menos se tente minimizar os danos ao usuário e à sociedade, causado por este uso”.

sábado, 26 de julho de 2025

 A PROFECIA DE MOACIR NEVES.

O maranhense mesmo com sua visão cosmopolita, cristão-

ocidental, nunca deixou de acreditar em mandingas e nas coisas

do sobrenatural. Não é atoa que São Luís tem dois dos principais

templos de matriz africana do mundo, a Casa Fanti Ashanti

fundada pelo Pai Euclides Talabyian, uma casa de candomblé da

nação Jeje-Nagô, e a Casa das Minas, fundada por Mãe Jesuína,

Rainha Nã Agontime, esposa do Rei Agonglô da nação Daomé, e

que teve como principal liderança religiosa a Mãe Andressa. Isto

sem falarmos de Codó a capital mundial do terecô, da umbanda e

da encantaria.

Este mundo mágico, místico e cheio de crendice é comum no

comportamento social, político e religioso do maranhense. O

exemplo mais peculiar desse maranhense ecumênico, era o

comendador, empresário, empreendedor, cantor, compositor,

promotor social, guru e vidente nas horas vagas, o fantástico

Moacir Neves, que mesmo com seus inúmeros negócios, projetos

e participações em eventos sociais, nunca deixou de fazer suas

previsões sobre o futuro e de exercer o ato de vidência,

principalmente no início do ano.

Consta, que o Comendador e futurólogo Moacir Neves, teria antes

de morrer, premonizado que o Maranhão teria um novo

Presidente da República, e desta vez escolhido democraticamente

e levado nos braços do povo ao Palácio do Planalto. Imaginou-se

que o sortudo fosse o ex-presidente José Sarney, seu amigo

pessoal e ouvinte cativo das suas previsões futurologas.

A previsão de Moacir Neves caiu no esquecimento, o Partido dos

Trabalhadores chegou ao poder, Dilma se elegeu Presidente,

sofreu impeachment, o Partido Comunista do Brasil com seus 100

anos de história e luta elegeu e reelegeu o seu primeiro

governador com amplo apoio popular, iniciando o projeto

comunista de modernização e organização do Estado.


O ex-governador José Reinaldo Tavares há algum tempo vem

propondo um pacto pelo Maranhão, publicou suas ideias em

órgãos da imprensa. O certo é que assunto sempre será tema de

discussão, principalmente nas proximidades de qualquer eleição.

Seria um desafio ao governador, um aceno de paz a Sarney, um

gesto de amadurecimento político ou um aviso dos astros,

caboclos ou encantados que 2020 está chegando e a profecia de

Moacir Neves pode se materializar o mais rápido do que a vã

filosofia dos incautos?

Comunista que se preza não acredita em premonições, vidências

ou crendices, acredita mesmo é nas coisas mais concretas,

materiais, bem ao estilo do velho e sempre atual materialismo

dialético.

Prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém, portanto

melhorar indicadores sociais, vender uma imagem positiva do

estado e ficar atento aos problemas nacionais, faz com que a

terceira via não seja sonho de comunista e muito menos revelação

mediúnica. O problema é que a profecia de Moacir Neves pode se

materializar e aí tudo vira como antes no Quartel de Abrantes.

O aviso provocativo do ex-governador foi dado, quem mandou o

aviso só Deus sabe!

domingo, 22 de junho de 2025

 O DOMINGO COM MARROM GLACÊ

Hamilton Raposo Miranda Filho 


Tenho me preocupado nos últimos anos com o futuro do marrom glacê. Um doce pouco lembrado, mas que tem a cara e a marca registrada da sobremesa típica da casa dos meus pais.


Não era uma sobremesa comum; tinha lá seus encantos e particularidades. A marca preferida dos meus pais era Cica, servida sempre após o almoço de domingo, na companhia do insubstituível e irresistível queijo de cuia.


O almoço especial do domingo tinha, invariavelmente, galinha ao molho pardo e algumas vezes, linguiça de Buriti Bravo, trazida pelo seu Teodoro, um amigo de infância do meu pai, e como “Petit Résistance”, alguma invenção culinária da minha irmã Hamilena, tirada dos seus inúmeros cadernos de receitas. O comando da cozinha era de Crisálida, uma negra quilombola, companheira dos meus pais, enquanto tiveram vida. De Crisálida, além do afeto e da companhia, trago a coroa de São Benedito como presente de casamento.


Durante o almoço discutíamos política, comíamos e bebíamos vinho tinto Raposa ou Cabeça de Touro. Às vezes, com a finalidade de melhorar o sabor do vinho, adicionávamos Guaraná Jesus, uma mistura bizarra que unia e divertia a família. Compartilhavam a mesa e a família: Teresa, Marli e Estela, todas irmãs de alma e que muito me ajudaram na minha formação e educação.

Após o almoço, o marrom glacê, em companhia do queijo de cuia, era servido triunfalmente e depois, em um ritual contemporâneo, brindávamos a alegria e a presença de todos sob a benção do aperitivo San Rafael, finalizando a tarde com alguns comprimidos de Metionina ou Xantinon B12.

A lembrança do marrom glacê surgiu em uma dessas conversas de fim de ano. E em época de Naked Cake, tortas, pavês e sofisticados suflês, a simplicidade do marrom glacê e dos doces caseiros perderam o espaço merecido e ganhou o esquecimento moderno da sofisticação. Aqui em casa não faltam marrom glacê, goiabada cascão e queijo de cuia, e que se dane o colesterol e o triglicérides.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

 FUTEBOL DE SALÃO E AS TRIBOS DE INDIOS (do livro Crônicas das Minhas Memórias - Hamilton Raposo Miranda Filho )


Todos os meus amigos do futebol e fora do futebol sabem da minha paixão pelo Sampaio Correia Futebol Clube, a Bolívia Querida. Sou daqueles torcedores que vão ao Castelão e ao Nhozinho Santos, incentivar sua equipe. Não perdia os programas do Herberth Fontenele, o comentarista mais boliviano que existiu, e como ele, faço tudo para ver o Sampaio campeão. Não meço esforços – cheguei a viajar com o time em jogos fora de São Luís, na companhia de “Geografia”, de saudosa memória, Filadelfo, Alberto Junior, Pit Caju, dentre outros grandes desportistas.


Gostar ou não de futebol é uma coisa, ser apaixonado é outra bem diferente. São Luís, a ilha rebelde, desperta paixão, ou você gosta ou não gosta. Sempre foi assim. Aqui se torce pelo Moto Clube ou pelo Sampaio Correia, alguns até que se arriscam a torcer pelo Maranhão Atlético Clube em ocasiões muitos especiais. Meu pai era maqueano e considero o Maranhão Atlético Clube o meu segundo time, mas a paixão é ser rubro-negro ou tricolor. Na política é a mesma coisa – até algum tempo atrás, ou você gostava do Sarney ou odiava o Sarney.

 Atualmente é Flávio Dino - ou você gosta, ou não gosta dele. Houve um tempo que a polarização política era entre Cafeteira e Sarney – até que em 1985, em face da necessidade de eleger Tancredo Neves para a Presidência da República, os dois se aproximaram, e em 1986 Cafeteira elegeu-se governador do Maranhão com o apoio de Sarney.


Sou apaixonado pelo rádio AM, e anos atrás a Rádio Difusora era a minha emissora favorita, que sintonizava para ouvir Lima Junior, Fernando Sousa, Clésio Muniz, Jota Alves e Guioberto Alves. Também ouvia, pela Rádio Timbira, Rui Dourado, Jairo Rodrigues, Canarinho, Hélio Rego e vários outros. Passei muito tempo ouvindo o Domingo é Nosso, Alegria na Taba, Futebol de Meia Tigela, Ronda Policial e outros programas inesquecíveis. Ouvi e me atualizei com os acontecimentos políticos através do Difusora Opina, na voz grave e marcante de Fernando Sousa, lendo os textos escritos por Bernardo Coelho de Almeida. Como esquecer a Guerra dos Mundos, quer encenou a suposta invasão de extraterrestres em São Luís, causando o maior pandemônio na cidade. Vivíamos sem a Globo, TV a cabo ou internet. E mesmo assim, vivíamos com intensa paixão.


A paixão era tanta, que a avenida Beira-Mar ficava lotada em dias de jogos de futebol de salão, hoje futsal, no Casino Maranhense, principalmente quando a partida era entre dois dos times mais queridos da cidade: o Drible e o Cometas. O Drible, fantástico time dos irmãos Saldanha, reunia atletas como Lobão, Luizinho, Chedão, Guilherme e Mota, enquanto o Cometas contava com Dunga, Biné, Poé, Nonato Cassas e Elias. Eram noites inesquecíveis!


Certa vez assisti na Praça da Alegria a um exemplo de paixão explicita, uma briga entre dois blocos de carnaval, as tribos de índios Pownee e Apaches. Eram duas paixões. São Luís gostava de tribos de índios no carnaval e os fãs sempre acompanhavam estes blocos. O sentimento era visceral e chegavam a brigar quando se encontravam, partiam aos gritos uns para cima dos outros com tambores, lanças, reco-recos e tamborins. Eu adorava as tribos de índio do carnaval maranhense e confesso aqui um sonho que não realizei: sair em uma tribo daquelas no carnaval. Uma grande frustração.