A CASA DE HEITOR E DE AMÉLIA (do livro Crônicas das Minhas Memórias)
Hamilton Raposo Miranda Filho
A casa de Heitor Franklin da Costa e de Amélia Galiza Franklin da Costa fica na Rua de Santa Rita, em frente ao imóvel em que nasci e morei. Ali residiam, além de Heitor e Amélia, suas filhas Guiomar, Sílvia, Cláudia e Flávia; Gastão, que era irmão de Heitor, e Sofia, irmã de Amélia. A casa é de uma beleza arquitetônica inigualável e simboliza o estilo de residências da década de 1950. Entretanto a minha lembrança vagueia pela vida que aquela casa transpirava e pelos espaços ocupados por pessoas.
Heitor era um cientista por vocação. Entendia de mecânica, fotografia, pintura e se arriscava em grandes inventos. Tinha uma garagem, na verdade um laboratório, com todas as ferramentas possíveis para qualquer tipo de trabalho. Ali ficava guardado um Citroen parecido com o do filme os “Intocavéis”, e este automóvel era montado e desmontado quantas vezes fosse necessário por Heitor. Não me lembro de ter visto aquele carro funcionando ou andando pelas ruas de São luís. A oficina de Heitor me fascinava!
Amélia era toda-sorriso, companheira da minha mãe, de conversa diária, em casa ou pela janela, como convinha e quando necessário, de passeios pela Rua Grande e das missas de sábado à tarde na Igreja de São João.
As filhas de Heitor e Amélia eram Guiomar, Silvia, Cláudia e Flávia (que teria a minha idade e foi chamada por Deus em uma tarde de setembro com pouco mais de 6 anos de idade).
A porta de entrada da casa tinha um sino, um pouco escondido, fixado no alto e por trás da porta, mas poucas pessoas tocavam aquele sino, preferiam bater palmas, avisando que tinha gente na porta. O sino devia servir para alertar a chegada ou a saída de algum conhecido. Tinha um valor simbólico e fora criação de Heitor Franklin da Costa.
Havia um terraço bem cuidado com algumas plantas em canteiros e ao lado esquerdo da casa, havia um local, talvez um galinheiro, ambiente comum nas casas da época. À direita, na entrada da garagem, em aclive com piso de cerâmica vermelha e encerado constantemente, eu costumava, durante as conversas de Amélia com minha mãe, escorregar sentado naquele revestimento, o que me deixava com marcas avermelhada da cera nos fundos da calça curta. Um pouco acima, um banco de madeira coberto por caramanchão servia de cenário para deliciosas conversas da minha mãe com Amélia, dona Vitória Libério e dona Vócia, uma vizinha da Rua de Santa Rita. Dona Vócia morava ao lado da casa do Seu Joaquim, um fascinante joalheiro, que consertava relógios, joias e outros apetrechos.
A sala tinha três ambientes. No primeiro ambiente, logo na entrada da casa, ao lado da escada que levava à área residencial, havia um móvel escuro com o telefone sobre ele. Um luxo para época. Os outros dois ambientes eram decorados com uma mesa de jantar, um sofá com duas poltronas e uma cristaleira. O piso era de taco.
Na parte superior da casa, além dos quartos, havia o terraço, que fora o mais bonito que conheci, guarnecido por quatro cadeiras de ferro, sempre à disposição para uma boa conversa. O piso do terraço era de uma beleza inconfundível, todo em mosaico branco e preto. Foram muitas tardes na companhia da minha mãe, que de lembranças materializamos o passado. Naquelas tardes em que corria e brincava, observava naquele terraço, que o tempo passava sem clemência e sem volta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário