DIÁRIOS, COLEÇÕES E O MEU BAÚ DE OSSOS (A DESCOBERTA DE MANOELA).
do livro Crônicas das minhas memórias.
Hamilton Raposo Miranda Filho
Sem nenhuma pretensão de ser Pedro Nava, o emérito médico e escritor de Baú de Ossos, expresso hoje a emoção de abrir o meu baú com a falante e indagativa Manoela, minha neta. Sou obrigado a confessar que também tenho o meu baú de ossos e ali guardo com muito orgulho clássicos e originais da Psiquiatria, como Pacheco e Silva, Henrique Roxo, Nobre de Melo, Henry Ey, Alves Garcia, livros com páginas amareladas, recordações e uma coleção de selos.
A minha geração foi marcada por diários e coleções. Poucos adolescente não tiveram um diário. Confidências, segredos e ingenuidades, tudo era registrado e escondido dos adultos fiscalizadores. Os diários tinham formato e características próprias, alguns artisticamente desenhados, outros mais simples, todos cheios de segredos.
As coleções também faziam parte do universo lúdico juvenil. Havia coleções de tudo: selos, lápis, flâmulas, moedas, times de botões, caixas de fósforos, tampinhas ou figurinhas. Tudo era colecionado e compartilhado. Ainda hoje mantenho guardada uma coleção de selos. Cada selo tem uma conquista ou uma história.
A coleção de revistas do meu tio Franklin me fascinava. Ele a protegia em um guarda-roupa na casa da minha avó Flora. Era uma fantástica coleção de revistas e jornais. As revistas Cruzeiro, Tico-Tico e Revista dos Esportes, os Jornais O Globo e Dos Esportes me fascinavam e me entretinham. Acho que aprendi a gostar de futebol lendo a Revista dos Esportes e a respeitar o América Futebol Clube, pela admiração e respeito ao meu Tio Franklin.
Na década de 1970 um casal de publicitários americano resolveu declarar o amor que sentiam um pelo outro com uma mensagem ingênua: “amar é....” Este fenômeno invadiu o Brasil, e São Luís não podia ficar de fora dessa onda, com frases feitas, bonecos, desenhos e botons. Não havia uma adolescente que não tivesse em seu caderno de escola a mensagem: “amar é...”.
O álbum de figurinhas foi outra diversão da minha geração. Mas acho que nunca concluí um álbum, sempre faltava uma ou duas figurinhas para encerrar. A minha mãe costumava encapar os meus álbuns, de tão importantes que eram. A cidade se envolvia e se motivava na compra e troca de figurinhas. Os álbuns geralmente eram de filmes épicos, jogadores de futebol, artistas, clubes e países. Tudo era diversão, não havia pressa, nem wi-fi.
Visitei neste final de semana o meu baú de recordações e respondi como pude às perguntas de Manoela. Descobri que cada selo, cada livro ou carta conta um pouco da história das pessoas com as quais convivi e da cidade que nasci e me criei. Manoela entra assim, sem querer, para a história do meu baú de ossos.
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